José Carlos Vasconcelos foi o moderador desta sessão em que foi apresentada uma “obra monumental, histórica e única na História da Literatura Portuguesa”. Coube-lhe apresentar os autores desta “odisseia”: José Eduardo Franco, Pedro Calafate (neto da personalidade poveira Vasques Calafate) – coordenadores da obra – e João Francisco Marques.

Os 30 volumes que compõem a Obra Completa do Pde. António Vieira foram editados ao longo de cerca de dois anos pelo CL, fruto de uma “coragem imensa” de José Eduardo Franco, que é um “grande lutador” e que conseguiu algo admirável: “primeiro, conseguiu arranjar os meios financeiros e logísticos para publicar a obra; em segundo lugar, concretizou um trabalho científico de elevada qualidade”. De referir que a obra foi publicada, em simultâneo, no Brasil.

Na sua intervenção, Pedro Calafate enalteceu a “enorme capacidade de trabalho de José Eduardo Franco e a possibilidade que este empreendimento lhe deu de trabalhar de perto com o Padre João Marques, que teve muita importância na sua formação e lhe transmitiu o gosto pela obra de António Vieira desde muito novo.

Esta obra resulta, acima de tudo, de um trabalho em equipa, “como António Vieira teria gostado, congregando muita gente de Portugal e do Brasil” neste esforço comum e consistente, salientou Pedro Calafate.

A parte que coube a Pedro Calafate neste trabalho está relacionada com a obra profética do Pde. António Vieira, a parte que o próprio autor considerava a mais importante da sua vida – “palácio dos meus escritos” – e que nunca chegou a ser editada, aliás uma parte dos seus originais perdeu-se. Pedro Calafate revelou que foi necessário recorrer a cópias dos manuscritos, na sua maioria rabiscados pela censura da Inquisição.

Este coordenador da publicação considera que a obra de António Vieira é “um grande tratado sobre a Paz”.

José Eduardo Franco admitiu que “há muito que sonhava que esta sessão se realizasse aqui”, na Póvoa de Varzim, e em particular no Correntes. E justificou: a cidade tornou-se ponto de “peregrinação intelectual” e é morada do Prof. João Francisco Marques, que tem sido um mestre para mim – “o último dos eruditos” – e o “guru” da Literatura a quem procuro para saber a opinião sobre os meus projetos.

Para Franco, editar a Obra Completa daquele que considera o “imperador da Língua Portuguesa” impunha-se como um projeto fundamental e, agora, não quer dizer que o “trabalho de casa da Literatura Portuguesa esteja concluído”, pelo contrário, frisou, “isto é o princípio do muito que há ainda a fazer”.

Não foi um trabalho fácil, recordou o coordenador da obra, “andei 10 anos atrás do Círculo de Leitores” até os convencer a editar um clássico, lutando para que esta obra fosse acessível ao grande público. A equipa multidisciplinar reunida por Franco centrou o seu trabalho neste objetivo, preocupando-se menos com os eruditos e mais com o grande público. Assim, concluiu, “fizemos a obra realista e minimamente atualizada, com notas explicativas essenciais”.

A intervenção do Prof. João Francisco Marques nesta obra centrou-se nos sermões, que ocupam 15 volumes, e que António Vieira considerava serem “pobres choupanas” da sua escrita. João Marques considera isto contraditório, afinal, António Vieira ficou conhecido pelos 220 sermões que deixou (muitos outros se perderam).

Para o investigador poveiro, “esta obra era uma meta a alcançar e, pessoalmente, um sonho a concretizar”, já que dedica-se ao estudo da obra de Padre António Vieira desde os seus 20 anos de idade, sendo que só agora, aos 82, tem a satisfação de ver concluída a publicação desta obra de “loucos”.

António Vieira foi “missionário, diplomata, pregador da corte, confessor de reis e príncipes”, mas “nem sequer se sabe onde param os seus ossos”, refletiu João Marques, que acrescentou: “A Obra Completa está publicada com um texto rigorosamente revisto e fidedigno”.

Fica para o presente e para o futuro um “património cultural, o património de um génio”.