Na
sessão, o Provedor da Santa Casa da Misericórdia, Vergílio Ferreira, afirmou
que os órgãos sociais “assumem uma responsabilidade perante a irmandade, mas
essencialmente perante a população desta comunidade poveira. Os 256 anos de
ação na saúde e apoio social desta Misericórdia, vocacionada essencialmente
para os mais desfavorecidos e desprotegidos pelo Estado Social, são uma
acrescida responsabilidade”. O Provedor explicou: “diz-se que em tempos de
crise se abrem também oportunidades. Aproveitemos então esta crise económica,
que também é social, para em conjunto, os diferentes atores da sociedade,
apontarem soluções viáveis e consistentes para o Estado Social. O papel das
Misericórdias e da Misericórdia da Póvoa de Varzim em particular, como
retaguarda de proteção para os que sofrem os reveses das injustiças sociais
terá de ser reforçado. Refiro-me ao papel que a União das Misericórdias tem
tido, particularmente nos últimos anos, nas negociações em volta das questões
sociais. A sua ação terá de ser reforçada no diálogo com o poder político e
outros parceiros da organização socioeconómica do país, enquanto órgão
agregador do movimento misericórdias, através das estruturas nacionais e
regionais. Não havendo resposta aos problemas sociais, por parte dos organismos
do estado, particularmente do poder central e regional, cabe às estruturas
locais e em especial à Rede Social, tomar nas suas mãos a defesa das pessoas
que são elos mais frágeis da organização social”.

Vergílio
Ferreira sublinhou que “a situação de emergência social que se irá viver no
corrente ano na Póvoa de Varzim, tal como no resto do país, será certamente
mais alargada do que em 2012 e o apoio social que passa necessariamente pela
vertente saúde terá de ser devidamente acautelado.

Aires
Pereira, Vice-Presidente da Câmara Municipal, recordou o trabalho desenvolvido
por Silva Pereira, antigo Provedor da Santa Casa da Misericórdia, falecido em
2011. “Esta é a primeira Provedoria após o desaparecimento do nosso amigo e,
aos que chegam, deixo uma palavra de coragem e de apoio para esta missão que
considero ciclópica, pelos tempos que temos pela frente”, disse o autarca.
“Cada um de nós tem a obrigação de assinar o livro de honra que os membros dos
órgãos sociais da Santa Casa hoje assinaram, de forma a tornar a tarefa destas
pessoas menos árdua. O ano que agora começa será, sem sombra de dúvida, um dos
piores na área da solidariedade, com cada vez mais pessoas no desemprego mas,
ao mesmo tempo, com menos direitos sociais. Por isso, temos que nos preparar
para este desafio. A Póvoa de Varzim é um concelho relativamente pequeno, com
cerca de 64 mil habitantes, com muitas instituições e habituado a servir. Desde
logo, o nosso setor social irá encarregar-se de fazer uma coisa que penso estar
a faltar: um levantamento muito rigoroso sobre quem recebe e quem recebe o quê,
sob pena de estarmos a distribuir mal os recursos, que são escassos. Com a
coordenação da Cruz Vermelha Portuguesa, iremos fazer uma distribuição mais
justa. Num concelho como o nosso, não há nenhuma razão para que um único
cidadão que não tenha o mínimo de apoio para uma melhor qualidade de vida. O
município reforçou o seu orçamento em 120%, isto é, mais de meio milhão de
euros, só para apoio a este setor social, para que todos passem este ano com o
que já começa a faltar, dignidade. E, por isso, o município decidiu tomar uma
série de medidas, as que estão ao nosso alcance, muito dirigidas às pessoas,
como é a diminuição do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI). Esta diminuição resultará
numa perda de receita na ordem dos dois milhões e setecentos mil euros, mas
vale a pena fazermos menos uma obra, menos uma rua, menos uma festa e poder dar
estas condições aos nossos munícipes. Equiparamos todas as instituições de
solidariedade social e todas as instituições de interesse social e irão
beneficiar do tarifário social na fatura da água. Esta casa, por exemplo, irá
pagar menos cem mil euros por ano”.

O Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, sublinhou a
dedicação da Câmara Municipal à realidade da paz. “Houve um tempo em que paz
significava ausência de guerra, mas é muito mais. É imperioso que todos nos
convençamos que na vida de muitas pessoas não há paz. Há muita inquietação,
muitos dramas, muitas guerras interiores pelo afastamento da paz interior.
Temos obrigação de sermos construtores da paz e, para isso, é preciso criar a
atitude de sair de si mesmos para dar resposta às necessidades alheias. Ainda
existe uma insensibilidade muitíssimo grande. É urgente tornarmo-nos homens e
mulheres capazes de sair do seu bem-estar para ajudar quem precisa. A
existência de instituições como a Santa Casa da Misericórdia é um exemplo de
partilha”. D. Jorge Ortiga sublinhou que “a sociedade moderna precisa de
modelos positivos. A Santa Casa é um destes modelos positivos e que pode dizer
que a marcha do egoísmo é reversível. A sociedade portuguesa precisa
incomodar-se, inquietar-se para conseguirmos dar resposta aos problemas que nos
esperam”.