Ana Margarida de Carvalho afirmou escrever sobre outros tempos, outras pessoas, outros continentes. Por isso, escreve sobre o que não conhece profundamente. “Perguntam-me porque escrevo tanto sobre o mar. As travessias que fiz sempre foram curtas, entre ilhas. Não seria capaz de trabalhar no mar, ser pescadora. Seria incapaz de matar um animal. Não conheço o mar mas conheço-o de o ler. O mar invadiu a História e a literatura quando as pessoas o invadiram a ele”.

Bento Balói fez uma homenagem à sua mãe, “uma grande mulher. Como grande parte da população moçambicana não sabia ler e nem escrever. Apenas sabia a linguagem do trabalho. Ela ensinou-me o que era conhecida como a língua de cão. Mas, todas as noites, antes de dormir, eu tentava aprender sozinho a enrolar a língua como os brancos fazem quando falam. Hoje, escrevo. A língua portuguesa, que a minha mãe nunca soube falar, é hoje a minha, que sou moçambicano”.

O escritor afirmou que “o desafio é saber o que dizer com o que escrevo. Como saber o que dizer se tenho crianças no meu país que não conhecem a cor da côdea do pão? Se há jovens que pisam um chão sem alicerces, que lhes nega o futuro, o direito de sonhar. Como saber o que escrever se no meu país não são os homens a enterrar o lixo e sim o lixo a enterrar homens? Se a lei da força continua a dominar o meu país? Choramos pela paz porque queremos crescer e sem ela não há desenvolvimento. Mas, esquecemo-nos que sem desenvolvimento também não é possível a paz. Parem de dizer que sou livre e independente. É areia demais para os meus olhos”.

Bento Balói citou Mia Couto: “a diferença entre ontem e hoje é que ontem o futuro era melhor”.

Filipa Martins disse que “a ideia de escrever sobre aquilo que não sei remete-me para a memória, as glórias da Humanidade. As memórias podem ser lidas, vividas. Não concordo que os escritores escrevam sobre aquilo que não sabem. No entanto, a escrita biográfica sempre me despertou desconforto”.

A escritora lamentou que percamos a capacidade de questionar depois da adolescência. “A sociedade gosta de pessoas convictas”.

João Paulo Cotrim falou sobre o seu novo papel, o de editor. Nesta função, o também escritor afirmou ser um leitor de outras escritas e que não são definitivas. A sua editora trabalha com o que considera serem “escritores difíceis”.

Sendo, segundo o próprio, desorganizado e desarrumado – não se referindo apenas à sua biblioteca pessoal, que ficará ordenada quando ele morrer – ter sido convidado para elaborar uma crónica semanal intitulada “Diário de um editor” foi uma forma de encontrar sentido para as coisas que vive. “Este ritmo semanal me obriga a pôr-me nos eixos”.

Kalaf Epalanga confessou que hoje aceitou “boleia de dois desconhecidos”. E, para o escritor angolano, o desconhecido é, por vezes, o ponto de partida para a sua escrita. “Deixo-me levar pela primeira letra, pela primeira palavra. O que eu não sei é o que vai acontecer. Gosto do desconhecido, de descobrir”. Kalaf Epalanga afirmou que utiliza a escrita como forma de “servir o próximo, de quem não pode ou não consegue dizer”.

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