O agrupamento, sediado em Paris, atraiu à Igreja Matriz centenas de melómanos cuja afluência constitui um novo recorde para aquele recinto. O programa ‘Audi Coelum’ prometia desvendar pérolas da música sacra italiana dos séculos XVI e XVII. As expectativas foram largamente ultrapassadas. Segundo a direção do FIMPV este foi, seguramente, um dos concertos de encerramento mais fascinantes no historial do Festival.

Ao longo da edição, outros dados há a realçar. Além dos magníficos intérpretes e música de elevada qualidade que antes se descreveu, fica para a história desta edição o regresso de parte da programação do FIMPV ao renovado Cine-Teatro Garrett. As qualidades acústicas mereceram elogios dos executantes e foram avalizadas por experientes personalidades do mundo da música presentes na sala.

Quando aos concertos, desde logo, as conhecidas ‘Le quattro Stagione’ de Vivaldi por Il Pomo d’Oro (em estreia em Portugal) e o violinista solo Riccardo Minasi; o agrupamento britânico Stile Antico (um luxuoso programa de polifonia vocal dos séculos XV e XVI); o quarteto vocal norte-americano Anonymous 4 (admirável homogeneidade e perfeito entrosamento devidos a uma carreira internacional de mais de vinte e cinco anos); a arte do pianista Alexeï Lubimov (estreia em Portugal), sobretudo pelo exemplar desempenho no 2º caderno de Préludes de Debussy; e o Quarteto Ebène, cuja actuação em S. Pedro de Rates veio provar por que razão o agrupamento francês é considerado um dos melhores quartetos da actualidade (a obra-prima absoluta que é o Quarteto para cordas nº 4 de Béla Bartók tornada evidente e imediata pela precisão, colorido e beleza formal; e que dizer da música de Mozart e de Brahms assim interpretada?).

O apoio que o FIMPV continua a prestar aos jovens músicos portugueses foi recompensado com significativas atuações do Quarteto Verazin, do duo de Raquel Camarinha e Raúl da Costa (que trouxeram ao Cine-Teatro Garrett um público ávido de saber em que fase se encontram os dois jovens cuja carreira decorre com êxito em França e na Alemanha, respetivamente), do Trio do Desassossego (pertinente a leitura de trechos de Fernando Pessoa, a anteceder cada uma das peças do programa), do inabitual duo de Gabriel Antão e Pedro Costa (trombone e piano), e do concerto pelos jovens executantes do Estágio Gulbenkian para Orquestra (edição de 2014) sob direção da consagrada e carismática Joana Carneiro – um valor seguro na atual panorâmica da música portuguesa –, com um exuberante programa do grande repertório sinfónico.

Ainda no âmbito da música portuguesa, mas com intérpretes das gerações anteriores, o destaque vai para Os Músicos do Tejo, que se fizeram acompanhar por alguns dos mais notáveis cantores portugueses em atividade, para apresentar a ópera ‘La Spinalba’ do compositor setecentista português Francisco António de Almeida. A tradução do libreto em legendagem projetada no palco à medida que o espetáculo decorria, permitiu que o público seguisse a par e passo o desenrolar do enredo, recurso que decerto contribuirá para a divulgação do género. Já no ambiente austero da Igreja Românica de S. Pedro de Rates, o agrupamento portuense Arte Minima conseguiu enquadrar com propriedade a sua proposta de recriar um ‘Officium Defunctorum’ em torno do motete ‘Versa est in luctum’ de Estêvão Lopes Morago (Mestre de Capela da Sé de Viseu entre 1599 e 1628 Uma referência muito particular ao concerto em que se estrearam as duas obras finalistas do 7º Concurso Internacional de Composição da Póvoa de Varzim – ‘O Elemento Ausente’ de Afonso Teles (1º Prémio) e ‘Não Canto para Surdos’ de Gerson Batista (2º Prémio), ambas muito elogiadas pelo júri; e ainda a obra encomendada pelo FIMPV a Nuno Côrte-Real (‘Lembras-te, meu amor, das tardes outonais…’). O compositor lisboeta dirigiu o Ensemble Darcos com esmerado profissionalismo, num programa que interligou a vertente de certo modo experimentalista da música contemporânea com uma visão mais lúdica e de impacto imediato (as Quatro Canções de Cole Porter interpretadas com propriedade estilística pela soprano Eduarda Melo).

Richard Strauss, cujo 150º aniversário do nascimento se comemora este ano, foi o compositor escolhido por Rui Vieira Nery para a sua habitual conferência de abertura do FIMPV. O musicólogo evocou com a habitual fluência o génio criativo do autor de ‘O Cavaleiro da Rosa’ e das pequenas joias que são os lieder para voz e piano (alguns deles requintadamente interpretados dias depois por Raquel Camarinha e Raúl da Costa).

O público correspondeu de forma entusiástica às propostas da programação – a percentagem média de ocupação dos recintos ronda os 98%.

A edição fica a dever-se aos apoios estruturantes da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, da Direção-Geral das Artes, do Turismo de Portugal, de diversas instituições e empresas (ao abrigo da Lei do Mecenato). 

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