Com um Auditório Municipal mais uma vez cheio, Miguel Real, José Eduardo Agualusa, Isabel da Nóbrega, José Manuel Vasconcelos, Eduardo Mendoza e Carme Riera partiram por vários caminhos para perceber se “Sou do tamanho do que escrevo”.

Abrindo o debate à mesa, José Manuel Vasconcelos tentou subverter o tema, afirmando que, para ele, deveria ser “escrevo com o tamanho que tenho e não, sou do tamanho do que escrevo”. O moderador acrescentou ainda que, para ele, a frase faria mais sentido na terceira pessoa, isto é “o escritor é do tamanho do que escreve”.

Para Miguel Real, o tema não causou qualquer problema, uma vez que, como afirmou, não o analisou na primeira pessoa, tendo feito exactamente o raciocínio proposto por José Manuel Vasconcelos, isto é, considerando que, nomeadamente no caso de grandes nomes da literatura, os escritores são do tamanho da sua obra e da sua escrita. Como exemplo lembrou Padre António Vieira, Camões e Fernando Pessoa, que, nas suas vidas pessoais conheceram a frustração e não foram casos de sucesso quanto à construção dessa mesma vida, mas que são percepcionados pela dimensão e valor da sua obra. Para nós serão, portanto, do tamanho do que escreveram.

Isabel da Nóbrega resolveu pegar no tema por outro ponto de vista, considerando que “sou do tamanho do que leio e não do que escrevo”. Com esta subversão do tema , Isabel da Nóbrega tentou demonstrar a importância da leitura para a construção do escritor, colocando-a, mesmo na origem de tudo. A partir daqui considerou, “se a obra for boa, o escritor é grande, se não o for, então o escritor será um escritor menor”.

Carme Riera pegou também na questão da leitura, afirmando que “somos o que lemos”. E, quanto ao processo da escrita, lembrou a intervenção de Susana Fortes, na última mesa da tarde, que tinha descrito o processo por que passa o escritor enquanto cria uma obra. Um processo em que o escritor vive com um pé na realidade e outro no mundo que está a criar, vivendo permanentemente com a obra dentro de si. Para Carme Riera, o escritor é, então, “aquilo que escreve e não do tamanho do que escreve”. E por fim deixou a questão: “de que tamanho seríamos se não fôssemos escritores?”.

Para José Eduardo Agualusa “qualquer livro, sendo bom, é maior do que o seu autor”, o que significa que, para o escritor, a obra assume, desde logo, o papel principal na equação. Para ele, o escritor é quase um personagem da sua própria obra, sendo também todos os outros que vieram antes dele e que o fizeram escritor.

Eduardo Mendoza fechou a mesa de debate recorrendo ao humor das histórias que resolveu partilhar com o público e que arrancaram bastantes gargalhadas e aplausos. E, para o escritor, a questão é muito subjectiva porque “o tamanho e o talento individual são questões muito relativas”. Para o provar afirmou que “não quero pensar que sou do tamanho do que escrevo, porque teria que me pôr cima da mesa, de pé, para que vocês me vissem.”