O romance Oculta, do colombiano Héctor Abad Faciolince, foi recentemente distinguido com o Prémio Cálamo, em Espanha, e gira em torno de La Oculta, uma propriedade escondida nas montanhas da Colômbia.

O escritor colombiano contou que Pilar, Eva e Antonio são os últimos herdeiros desta terra, que passou por várias gerações da família. Aí viveram os momentos mais felizes das suas vidas, mas também tiveram de enfrentar a violência e o terror, o desassossego e a fuga. A partir das vozes dos três irmãos, do relato que fazem dos seus amores, medos, desejos e esperanças, com uma paisagem deslumbrante como pano de fundo, Héctor Abad Faciolince mostra as vicissitudes de uma família e de uma povoação, assim como o momento em que o paraíso está a ponto de se perder.

Do romance passamos à poesia, com Vem à quinta-feira de Filipa Leal que foi apresentado por Francisco José Viegas: “é um dos livros que me apaixonou à primeira leitura. Do ponto de vista do leitor, é um livro intensamente autobiográfico, como toda a poesia, provavelmente. É um bocadinho de biografia de todos nós que gostamos da poesia e que respiramos por estas palavras que se repetem ao longo do livro. Livros, música, espaço, café, casa são os elementos fundamentais deste livro”.

Para o professor, jornalista e editor, “são poemas de memória e todos sobre memórias. Sente-se esta demanda: enquanto estiveres lá, não escrevas nada, depois é que as coisas são mais intensas. São poemas que apetece relê-los. É a vida de todos nós dito de uma maneira belíssima”.

Sobre Vem à quinta-feira, Filipa Leal transmitiu que “não há nada que sobre ele queira dizer que não esteja dito nele. É para mim um livro como um lugar que se decifra, que me decifra. Nós somos muitas vezes o lugar onde a ação se passa. Nós invadimos e somos invadidos e, às vezes, precisamos de calar, de ouvir. Ouvir, acredito, é a maneira mais pura de calar. Este é, porventura, o meu livro mais silencioso. Tem o ouvido encostado às portas e nunca é apanhado nesse exercício de espera por uma noção menos vaga de bem e de mal. Começa como uma espécie de aviso ou de confissão. Pelo sim pelo não, vou regando também as plantas falsas. Poderia tratar-se de um aviso prévio de cinismo, mas prefiro acreditar que é sobretudo um exercício de esperança. Pelo sim pelo não, vou continuar”.

A sessão terminou com literatura brasileira, um livro sobre a ditadura argentina e sobre a resistência escrito por Julián Fuks.

O escritor brasileiro revelou que A Resistência surgiu de um pedido do irmão, que é basicamente o cerne do livro, e lhe pediu para contar a sua história, uma história de adoção, algo íntimo. Há uma série de sentimentos presentes. O livro propõe uma busca pela identidade do outro, do irmão.

Sobre a palavra «resistência», Julián Fuks interpreta num sentido muito positivo de se manter firme defendendo uma posição em que se acredita fortemente, por um lado, e por outro, a de não querer encarar, da hesitação, da recusa, da negação. A preocupação com o livro é precisamente o lugar em que uma resistência se pode converter noutra, em que momento se pode fazer da negação, da recusa, da reclusão, um elemento de força. A literatura pode tentar executar essa conversão.

Acompanhe o 17º Correntes d’Escritas no portal municipal e no facebook Correntes, onde pode consultar o programa completo do evento, ver as fotogalerias e ler todas as notícias.