Atletas poveiros regressam da Turquia

Póvoa de Varzim, 14.02.2013 – Os cinco atletas que competiram no Campeonato Europeu de Karaté, realizado na Turquia na passada semana, dão conta dos resultados obtidos e da experiência obtida nesta prova internacional.image (2)

Vitalie Certan, Ina Certan, Jéssica Almeida, Luís Silva e Diana Pires partiram na quarta-feira para uma aventura que consideram “inesquecível”, apenas possível com o apoio da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, que disponibilizou a verba necessária para que os cinco concretizassem este sonho e representassem não só o país, como a cidade.

Aires Pereira, Vice-Presidente da Câmara Municipal e Vereador do Pelouro do Desporto, conhece bem as dificuldades com que se deparam estes atletas e, sabendo da dedicação à modalidade e valor de cada um deles, explica porque o município disponibilizou esta verba: “estes cinco atletas constituem um exemplo para a juventude. A Póvoa de Varzim, e digo-o com muito orgulho, é o concelho do distrito do Porto com a menor taxa de toxicodependência entre os jovens. Para isso, tem havido um investimento do município em planos desportivos, clubes e associações que promovam o desporto. É o caso do Bonfim e do CKA. Estes jovens já não encaram a prática desportiva como simples diversão. Dedicaram anos ao Karaté, deixaram de fazer as típicas coisas de adolescente para levar o nome da Póvoa de Varzim além-fronteiras e, agora, é justo que o município retribua todo o esforço destes cinco jovens”.

equipa karaté aguçadoura

Na Turquia, e depois de semanas de preparação, Vitalie Certan sentia-se pronto para vencer. O atleta treinou duas vezes por dia, quase diariamente. A vontade de trazer uma medalha era grande e Vitalie estava motivado. Tudo correu como planeado no primeiro combate, contra um atleta da Estónia, mas no segundo combate foi desclassificado nos últimos 20 segundos. A sua irmã, Ina Certan, também venceu a primeira prova, contra uma atleta francesa, mas no segundo combate, que a opôs a uma karateca belga, foi vencida. Jéssica Almeida perdeu no primeiro combate com uma atleta inglesa, Diana Pires chegou ao segundo combate, onde perdeu com uma atleta croata e, finalmente, Luís Silva foi penalizado logo no primeiro combate por ter efetuado “uma saudação a mais”, uma regra incluída no regulamento apenas em janeiro e com a qual o atleta ainda não estava familiarizado.

Fernando Miranda e Vítor Poças, do Grupo Recreativo Estrelas do Bonfim e do Centro de Karaté Aguçadourense, treinadores dos atletas, explicam que “seria impossível a participação dos nossos atletas neste Europeu sem o apoio da Câmara Municipal. As despesas de participação neste Campeonato – transportes, estadia e alimentação – teriam de ser suportadas pelos clubes e pelas famílias dos atletas, o que seria algo impossível de arcar”.

A determinação invejável de cinco jovens poveiros

Póvoa de Varzim, 14.02.2013 – “Ser derrotado é, normalmente, uma condição temporária. Desistir é o que a torna permanente”. Este é um dos lemas dos cinco poveiros que, na passada semana, participaram no Campeonato da Europa de Karaté, na Turquia.

Diana Pires

Apesar dos resultados não terem sido os pretendidos e, principalmente, coerentes com a intensidade de treinos a que todos se sujeitaram, os karatecas agora só pensam no próximo desafio, o Campeonato do Mundo.

São muitas as diferenças entre o Vitalie, a Ina, a Jéssica, o Luís e a Diana: a idade, as personalidades, os gostos e a experiência competitiva. Vitalie Certan tem 20 anos e é aquele que conta com mais participações em provas internacionais. A sua irmã, Ina Certan, e Jéssica Almeida, com 16 e 17 anos, participaram numa única prova internacional, o ano passado. Quanto a Luís Silva, de 19 anos, assume que começou “tarde” a competir fora do país. Já para Diana Pires, com apenas 14 anos, esta foi a primeira competição internacional.

Os cinco, acompanhados pelos seus treinadores, Fernando Miranda e Vítor Poças, nomeadamente do Grupo Recreativo Estrelas do Bonfim e do Centro de Karaté Aguçadourense, partilham as emoções vividas, não só neste Campeonato da Europa, mas ao longo de tantos anos de esforço e dedicação ao Karaté.

Têm apenas um dia de descanso semanal. Quando participam em competições ou estágios ao fim de semana, nem um dia têm para descansar e recuperar energias. Não saem à noite, não bebem, não fumam. E, ao contrário do que muitos poderiam esperar, “são os heróis dos amigos”, adianta Fernando Miranda, treinador do Luís e da Diana. Quando as provas são realizadas perto da Póvoa de Varzim, muitos amigos deslocam-se para apoiar os atletas, um gesto importante para os karatecas: “sentimos que somos um exemplo para eles porque, além de nos dedicarmos ao desporto, temos boas notas”.

Da Turquia, Luís veio desanimado. Fernando Miranda explica o que aconteceu com este atleta: “o Luís fez uma saudação a mais e foi penalizado. Em janeiro, houve alterações ao regulamento das provas. Muitos dos participantes neste Campeonato Europeu tiveram oportunidade de as colocar em prática no Open de Paris, realizado no mês passado. Infelizmente, o clube (Grupo Recreativo Estrelas do Bonfim) e os pais do Luís não conseguiram verbas para a sua participação”. Por esta altura, poderá estar a pensar porque seria o próprio clube e os pais do atleta a disponibilizar verbas. O treinador volta a explicar: “em todas as nossas deslocações, nacionais e internacionais, mesmo que sejam em representação da Federação e do país, é o clube e os pais dos atletas que arcam com todas as despesas, desde transportes, estadias e alimentação. O clube não tem condições para suportar todos os gastos e, sem o apoio dos pais, o Karaté deixaria de existir. Para a preparação para este Campeonato da Europa, por exemplo, os atletas foram convocados pela Federação para estágios em Lisboa, cujas despesas foram assumidas pelo clube e pelas famílias”. Esta situação tem-se tornado insustentável para vários agregados familiares: “muitos atletas desistiram neste último ano e muitos deles promissores”. Vítor Poças, treinador do Vitalie, da Ina e da Jéssica, assume a mesma posição e conta: “os gastos da participação dos atletas neste Campeonato da Europa teria de ser comportado pelos clubes. A Federação enviou um orçamento de €1200,00 (mil e duzentos euros) por cada atleta. Pedimos o apoio da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, porque para o clube (Centro de Karaté Aguçadourense) e para os pais este valor era incomportável. Este pedido foi rapidamente aceite e, só com a verba disponibilizada pelo município foi possível concretizar este sonho”. Ambos os treinadores concordam que as condições em que os atletas viajam e a antecedência com que o fazem, na hora da verdade, iria fazer toda a diferença. Vítor Poças conta que “os atletas viajaram para Lisboa na quarta-feira. De madrugada, às 3h00, portanto já quinta-feira, voaram para a Turquia, fazendo duas escalas. Uma vez naquele país, esperava-os uma viagem de autocarro de quatro horas. Passadas poucas horas estavam no tapete a competir. Por uma questão de custos, viajaram em cima da hora e sem oportunidade de descanso”.

Os atletas conhecem bem esta realidade: “sentimos as diferenças entre nós e atletas oriundos de país de Leste, por exemplo. Conversámos com muitos deles e sabemos que há um grande apoio por parte das suas federações. Mesmo nas escolas, há programas adaptados às exigências dos treinos e das competições”, desabafam os mais velhos, Vitalie e Luís. Fernando Miranda completa: “há uma frase que diz que o atleta não se deve preocupar com nada que não seja o treino e a competição. Mas, neste caso, isso não é verdade. Eles têm de se preocupar com os seus gastos e pedir aos pais o dinheiro necessário”. O apoio da Federação seria, portanto, essencial. Mas estamos a falar de uma verba muito avultada? “Nem por isso. Bastaria uma ajuda aos clubes de €4000,00 por ano e os atletas poderiam participar em provas internacionais ao longo do ano que lhes daria muita mais experiência”. O treinador do Bonfim também confessa que foi o município a pagar as despesas dos atletas no Campeonato da Europa e afirma a “impossibilidade de participação se não existisse este apoio”.

No entanto, e mediante as adversidades, os cinco já só pensam na próxima etapa, Madrid. O Campeonato do Mundo, agendado para novembro, vai acontecer no país vizinho e a esperança de conquistar uma medalha é grande. Este espírito revela as características comuns a todos: determinação, coragem e sentido de sacrifício para representarem a cidade e o país além-fronteiras mas, acima de tudo, para continuarem a praticar Karaté, algo que lhes dá um prazer maior que qualquer contrariedade.

Diana Pires
Ina Certan
Ina Certan
Jéssica Almeida
Jéssica Almeida
Luís Almeida
Luís Silva
Vitalie
Vitalie Certan