CE – Como surgiu a inspiração para escrever O Amante Albanês?

 
SF – O Amante Albanês chegou-me através de um grupo de refugiados albaneses em Barcelona e, a partir daí, comecei a entrar em contacto com um mundo que não conhecia: um país que viveu, durante muitos anos debaixo dos condicionalismos de uma ditadura comunista, de tradição balcânica, com uma história recheada de tragédia; Churchill dizia que “Os balcãs produzem mais história do que aquela que conseguem digerir”. E têm, de facto, uma história muito rica, assim como a música e a tradição poética. E eu servi-me de tudo isso para criar a história de um segredo, mistério, amor e intriga familiar…

Trata-se de um mundo muito fechado, Tyrana é uma cidade metida no Inverno…voltada para o seu próprio mundo interior onde circulam os boatos, numa terra onde não se pode falar claramente.

 
CE – E quanto à estrutura do romance?

 
SF – Para mim, toda a estrutura tem a ver com o segredo. A ideia principal é a de que todo e qualquer segredo nunca poderá durar eternamente, algum dia tudo tem de ser desvendado…

 
CE – Que tipo de pessoa é o protagonista e como se relaciona com as restantes personagens?

 
SF – O protagonista, Ismaïl, (em homenagem a Kadaré) é aquela pessoa que tira o fio a uma meada e o vai desenredando…a história são dois irmãos que vivem com os pais numa velha mansão em Tyrana.

O pai está ligado ao PCA – Partido Comunista Albanês – e a mãe é a grande ausente. A tensão surge quando o irmão mais velho se casa e a mulher, Elena, que é o elemento desestabilizador, desencadeia toda a trama. Esta inicia-se com um assassinato.
É também um romance muito oral, Ismaïl recorre a uma ama, Hannah, húngara, que fala de uma forma muito maternal, utilizando um discurso muito próximo da oralidade, ao contar-lhe os episódios da infância que lhe escapavam, que já estavam esquecidos… Ismaïl tem um sonho com uma imagem recorrente – uma mulher com uma écharpe azul que cai ao chão e sangra pelo nariz. Essa imagem, esse contraste ente o vermelho e o azul, vem-lhe constantemente à memória. Ela passa, então, a investigar o significado do sonho e a dedicar-se a desenredar toda a trama que une o passado ao presente. Uma história individual e colectiva. Uma história muito hermética, como o universo fechado de Tyrana.

 
CE – E como será o próximo romance de Susana Fortes?

 
SF – Chama-se Quattrocento e é um romance negro, histórico, passado no Renascimento…

 
CE – Então esperamo-la para o ano que vem no Correntes d’Escritas?

 
SF – Sim…espero…