Francisco José Viegas moderou a discussão onde cada um dos autores partilhou como encara o poeta predador. Na mesa, assistiu-se a uma exposição ordenada de ideias apresentada pelos poetas Imna Luna, Ivo Machado, Jorge Melícias, Tiago Nené e valter hugo mãe.

Um a um foram explanando em torno do tema. Reflexões sérias intercaladas por pequenos devaneios cómicos foram caracterizando as intervenções. A plateia atenta aplaudia a cada discurso finalizado e soltava risadas arrancadas pela boa disposição dos oradores.

Inma Luna inaugurou a mesa referindo que “o poeta não sabe o que e poeta até comer o primeiro pedaço de carne viva”. Após este início, a autora desenrolou o seu discurso servindo-se de diferentes tipos de poetas animais, apelando a uma certa  analogia zoopoética, identificou o poeta lobo, o poeta crocodilo, o poeta anémona e o poeta serpente. Salientou ainda que não se deve esquecer dos poetas porque, tal como a maioria dos predadores também estão em extinção. Para terminar, Inma Luna diz que “A predação tem uma função muito importante na natureza, por meio dela controla-se a povoação. O poeta, como predador, deveria contar com um tipo especial de protecção, devia ser tratado com mimo, prestigiar a sua tarefa, dar valor ao seu mordisco”. No entanto, a afirmação “O poeta é o gourmet do recôndito” foi a que mais marcou a intervenção da escritora.

Depois de Inma Luna foi a vez de Jorge Melícias discursar sobre o tema em cima da mesa. O autor começa por comparar o poeta ao anatomista que faz uma autópsia e refere que “todos falamos sobre o cadáver do outro”. Para Jorge Melícias, “o poeta é um predador do real mas um real desnudado” e nesse seguimento acaba por referir que para ele “a poesia é sempre uma encenação da verdade” razão pela qual “aos poetas tudo é mais permitido”. A terminar o escritor revela que não é um poeta místico e acrescenta que o poeta é um “predador do real, um predador dele mesmo”. Jorge Melícias concluiu referindo que “a beleza da poesia está na violência pois há pouca beleza na tranquilidade”.

valter hugo mãe foi o terceiro interveniente a discursar. O poeta que despreza as maiúsculas por uma questão de simplicidade de escrita, assumiu que é um predador e que sobretudo anda “à caça de satisfação”. Depois de tomar esta posição, optou por declamar uma história relativa à sua infância, a “história com os bichos”, onde o escritor vila-condense contou como encarou de forma trágica a percepção de que os bichos podiam sobreviver à sua ausência. valter hugo mãe revelou por fim, em tom irónico, que é “um predador à caça de amigos por mais esquisitos que eles possam parecer” e acrescentou ainda que é “um predador do outro lado das coisas, se isso é ser poeta eu sou”.

Tiago Nené começou a sua intervenção a realçar o ambiente agradável que se vive no Correntes d’Escritas, não só entre escritores, mas também entre estes e o público. Já na reflexão sobre o tema, o escritor considera que “mais que um predador, o poeta é um performer” e a poesia é uma performance que “emana do instante”. Para o autor, “o poeta não tem de dizer a verdade” e a ficção surge como paralelo à realidade que é parte da vida do poeta. Tiago Nené refere que discorda em parte de Fernando Pessoa pois, para ele, “o poeta não é completamente um fingidor” e torna-se difícil encontrar uma definição de poeta. O autor considera que ao contrário das pessoas em geral, que desejam coisas concretas, “os poetas desejam os desejos e é a partir desses contextos que o poeta se auto-coloca que surge a poesia”.

A encerrar o debate da 6ª mesa, Ivo Machado partilhou a história que o fez poeta. O seu primeiro poema fora escrito enquanto jovem, a uma namorada, mulher essa que voltou a ver 35 anos após a entrega do poema. O autor acredita que a poesia afecta de forma inerente todos os sentidos e assume-se como “memória e o poeta é aquele que recorda”. Para encerrar, Ivo Machado chama à mesa a política, notando que os governantes tentam silenciar os poetas mas acabam por citá-los “qualquer político sabe que uma só palavra pode matar a nossa sede” mas “quando se é poeta, há que aceitar ser ingénuo”.

 

Diana Sousa