Nas Correntes d’Escritas há vida depois da vida. Isto é, depois da sessão de encerramento o certame organiza, por tradição, uma mesa em Lisboa, no Instituto Cervantes. Assim, sob o título “A inteligência é a alma dos livros” reuniram-se Carlos Castán e Clara Usón, (ambos de Barcelona) e Leonardo Padura (Cuba) aos portugueses Bruno Vieira Amaral e Fausta Cardoso Pereira (como se espantou Clara, a dada altura, os dois únicos que levaram um texto escrito).

«Necessito escrever aquilo que, no momento de terminar, não pude evitá-lo», afirmou Carlos Castán, a pretexto do seu novo livro, Má Luz (Teorema; 2015), antes de Leonardo Padura dedicar a sua apresentação de Hereges (Porto Editora; 2015) a Orestes Miñoso (The Cuban Comet, de sua alcunha) mítico jogador de baseball falecido no dia anterior, a 1 de Março.

«A inteligência é essencial ao leitor, não é uma característica do livro.» Bruno Vieira Amaral dixit. «Cuidado com os livros inteligentes.» Carlos Castán dixit.

Fausta Cardoso Pereira falou do seu livro O Homem do Puzzle (Planeta; 2015) e leu um texto onde regressou à infância, revisitou fadas boas e fadas más e explicou porque há livros na sua alma. 

Colocar a alma e a inteligência na mesma sala pode trazer à luz do intercâmbio conclusões inovadoras ou acabrunhar o convívio e fazer divergir os dois estigmas, cada um rumo aos seus mitos e concepções específicas. Mas é sempre possível reunir umas dezenas de pessoas ao final da tarde, sob semelhante pretexto, para acabarmos seduzidos por alguns bons contadores de histórias, em detrimento da aparente busca espiritual.

Fausta evocou uma frase de Sérgio Godinho, proferida há dias na Póvoa de Varzim, «há tinta invisível nos livros», código exclusivo entre autor e leitor. Talvez por isso, Padura tenha salientado como, durante a elaboração de um livro «todas as ajudas são necessárias mas nenhuma te resolve o problema». Ou seja, está – literalmente – na mão do autor decidir a vida daqueles que inventa. A vida e a alma, entenda-se.

Agora sim, as Correntes d’Escritas de 2015 terminaram. Não percam de vista o espírito da coisa…