Cada ano começa com a desejável e inevitável saudação de “bom ano” e uma pergunta:

“Vais às Correntes?”

Fevereiro é mês de Correntes d`Escritas. A Póvoa de Varzim recebe cerca de 80 escritores de 14 nacionalidades diferentes na 19ª edição do maior e mais importante festival literário do país.

É um ritual que se quer perpétuo. Uma vez por ano, escritores encontram-se com outros escritores no comboio, no autocarro, no hotel. No primeiro dia, saem em direcção ao Casino da Póvoa para conhecerem os vencedores dos vários prémios literários, com especial atenção para o Prémio Casino da Póvoa. Há aquela felicidade de um reencontro esperado, anual, que vem reconfortar por aqui se verem de boa saúde.
Nestas conversas existe a ternura de quem acompanha o festival desde as primeiras edições. Há também a inquietação dos mais novos. São rapidamente acolhidos pela comitiva. Pouco tempo depois do baptismo na sala principal do Cine-Teatro Garrett, perante 400 pessoas, manifestam já a confiança de quem, lentamente, se sente confortável nos locais que visita e nas conversas com os outros convidados. Foi o que aconteceu com Juan Gabriel Vásquez, vencedor do Prémio Casino da Póvoa da actual edição.
Em 2017, o escritor colombiano apresentou “A Forma das Ruínas” (Alfaguara), livro que viria a vencer o principal prémio das Correntes d`Escritas.
No seu ano de estreia, Juan Gabriel Vásquez foi recebido por quem transmite a fraternidade construída ao longo de 18 edições. Desta forma, as Correntes d`Escritas inscreveram-se na vida do escritor colombiano, que voltará a estar presente para receber o prémio, no próximo sábado.
A Sessão Oficial de Abertura da 19ª edição coube a Luís Filipe Castro Mendes, poeta e Ministro da Cultura do governo em funções.
No Casino da Póvoa, Luís Filipe Castro Mendes sublinhou a existência dessa cumplicidade, tanto na presença dos escritores no público que ocupa os lugares do Cine-Teatro Garrett, como nas longas conversas pela madrugada dentro já no “lounge” do hotel.

O actual Ministro da Cultura referiu-se a Juan Gabriel Vásquez como um autor pós-boom do realismo mágico e já com obra consolidada.

O seu testemunho como poeta é valorizado pelas suas várias presenças no festival, em que, inclusivamente, lançou os seus livros mais recentes. Luís Filipe Castro Mendes sabe o que é a amizade, a solidariedade e a generosidade partilhada entre os escritores, neste festival pioneiro no país.

A reciprocidade de afectos entre público e autores fez com que a assistência fosse crescendo ao longo dos anos. Se nas primeiras edições havia mais pessoas em cima do palco do que na plateia, actualmente os 400 lugares não chegam para tanta gente.

 Consolidada por uma história rica, as Correntes olham para o futuro, para a sua 20ª edição, com o desejo de que a Póvoa de Varzim seja eleita Cidade Criativa da Literatura através da Candidatura à Rede de Cidades Criativas da Unesco.

A Póvoa de Eça, de Camilo e de Agustina é a Póvoa das Correntes d`Escritas.