A terceira sessão do Correntes d’Escritas que teve lugar esta quinta-feira no Auditório Municipal da Póvoa de Varzim foi moderada pelo escritor Rui Zink e teve como mote “A minha arte é uma espécie de pacto”, frase de José Tolentino Mendonça. A boa disposição foi uma constante por parte do painel que compunha a mesa que contou com a presença de Luís Represas, estreante na iniciativa, e de escritores ibero-americanos como David Toscana, autor mexicano.

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“Se queremos ter ideias para um próximo livro temos de fazer um pacto com o demónio”, iniciou Toscana a sua intervenção. O autor questionou e relembrou a plateia: “haverá alguma história que não tenha morte envolvida?”. “Não me lembro de nenhuma”, respondeu.

Já Juva Batela, de nacionalidade brasileira e que se encontra a fazer um pós-doutoramento em Literatura na Universidade de Lisboa, questionou o poema “A minha arte é uma espécie de pacto”. “Podemos afirmar que uma arte pode ser alguma coisa de modo categórico?”. “O que é uma espécie de pacto?”, questionou.

O escritor revela que, para ele, os autores são sempre inéditos porque cada livro é sempre diferente. “Não há pacto algum entre as partes de si mesmo, no autor”, referiu.

“A minha obra não se mete comigo e eu não me meto com ela”

Luís Represas escreveu o livro “Coragem de Tição”, uma estreia enquanto escritor. O cantor falou que fez um pacto com a sua obra: “ela não se mete comigo e eu não me meto com ela!”. A obra de Represas foi apresentada também na Póvoa de Varzim, no Diana Bar, em Novembro de 2010.

“Sentei-me e comecei a escrever uma aventura”, contou o cantor acerca do livro que escreveu. “Tinha partido uma perna e de repente resolvi viver a minha própria aventura”, acrescentou. De regresso ao mote da mesa, o autor revelou que existe um pacto entre ele e a sua obra “constantemente corrompido, quebrado.”

Manuel Jorge Marmelo, jornalista e autor de vários livros, de que é exemplo “As mulheres deviam vir com livro de instruções” lembrou a intervenção de Malagatana na última edição do Correntes d’Escritas e disse sentir a falta da presença do pintor que faleceu recentemente.

“O pacto que tenho com a arte que pratico é puramente alimentar. É o acto de escrever que paga a manteiga, o pão”, revelou o escritor, que falou sempre com boa disposição, acrescentando que pensou em fazer um pacto com o diabo para ter “sucesso, dinheiro e gajas”.

Mário Lúcio Sousa foi outro dos autores presente neste debate. Já gravou com artistas como Luís Represas, Pablo Milanez, Teresa Salgueiro, entre outros. Músico e escritor, publicou várias obras, da qual se destaca a mais recente “O novíssimo testamento”, da editora D.Quixote.

“O que eu faço é uma pequena parte de partilha de saber”, revelou o cabo-verdiano acerca do mote do debate, fazendo referência ao seu último livro.

Por último, um outro estreante falou na terceira mesa, Ricardo Romero, argentino, que escreveu vários contos. “Na contraposição entre a alegria e o medo, pomos a alegria num lugar mais valioso”, disse, brincando com a dicotomia entre alegria, tristeza e medo na escrita.

Texto de Renata Silva