Esta mesa foi moderada por José Carlos de Vasconcelos e contou com a presença de Aida Gomes, Almeida Faria, Eduardo Lourenço, Fernando Pinto do Amaral, Maria Teresa Horta e Ricardo Menéndez Salmón. Ficam aqui expostas as interpretações a pretexto do verso de Armando Silva Carvalho “Falta futuro a quem tem no presente as ambições / passadas”.

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Aida Gomes interveio primeiro e realçou que “O tema tem tudo a ver com o tempo. (…) Quem não conhece o seu passado não sabe aquilo que faz. (…) Um livro escreve-se tendo em vista a procura da verdade. É desmentindo a verdade que nos dá força no final. (…) O que é o futuro se só temos o presente, e o que é o presente se isso não existe? (…) O livro que escrevi tem muito a ver com o passado. (…) Para perceber o mundo não há melhor mestre do que o tempo. Vivi muitos dias, meses e anos na escrita, e ainda bem!”

Seguiu-se Almeida Faria que lembrou que “Há os que vivem no passado e os que recusam o passado. Nós não podemos viver só no passado. (…) É com linguagem que criamos os nossos mitos mas também é com linguagem que podemos destruí-los. (…) Segundo Nietzsche não podemos desembaraçar-nos de Deus enquanto acreditamos na gramática”.

Fernando Pinto do Amaral questionou “O que é que é isto do tempo? Esta questão da temporalidade chega a tornar-se obsessiva para alguns autores. (…) O intemporal é aquilo que vai permanecendo ao longo da história. (…) Se achássemos que tudo ia desaparecer no dia seguinte não fazíamos mais nada. (…) Precisamos de ter um grão de futuro na vida. O futuro tem de estar em cada instante presente. (…) Para quem não cria ambições novas a vida é apenas a espera da morte. (…) A relação da literatura com o real toca muito nesta questão do passado e do futuro. (…) Os livros que vão ficando ao longo do tempo vão sendo lidos e digeridos ao longo do tempo. Não podemos estar centrados apenas na novidade. (…) A vida é tão variável e tão imprevisível que a literatura não vai acabar”.

Maria Teresa Horta apresentou diversas passagens de mulheres marcantes, uma delas, Leonor de Almeida, “Faz-se futuro como se estivesse a fazer a vida”.

Ricardo Menéndez Salmón recordou que “O poeta é um fingidor” e como tal “também em Espanha há poetas melhores e piores como o poeta fingidor. (…) Em literatura o tempo futuro não existe. (…) A literatura é a verdade das mentiras. (…) Não conheço nenhum escritor que não viva rodeado de fantasmas, a literatura é um vasto cemitério. Por isso, o poeta é um fingidor e a literatura é um cemitério: Caminhamos entre mentirosos e mortos”.

Eduardo Lourenço, por fim, afirmou que “A temporalidade só existem em função do não-tempo ou de outro tempo. Nós vivemos todos como se fossemos eternos. Não só como entendimento mas como seres de paixão. (…) Nós sabemos que as coisas não são verdadeiramente eternas. (…) O tempo é uma realidade irreal”.

Depois de todas estas considerações podemos mesmo lembrar o trava-língua que tão simplesmente aborda a complexidade do tempo “O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem e o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem”.

Texto: Alexandra Matos – FLUP