Três músicos e a maravilhosa voz de Ana Bacalhau que, mais do que uma cantora é
uma intérprete que enche qualquer palco. Ontem, qual Colombina em busca de
Pierrot, Ana cantou e falou de cada uma das músicas dos Deolinda, muitas delas
sobre o amor de que “não sei falar”, sobre as paixões que podem até acontecer
num autocarro, a caminho do Alto de Benfica, sobre histórias do dia-a-dia, como
por exemplo a da cantora que sempre que vai jantar com os amigos, acaba por ser
convidada para cantar uma “musiquinha” no restaurante – mas agora tudo mudou e
quem a quer ouvir, tem que ir aos concertos dos Deolinda. Mais do que um
concerto, uma conversa em ambiente familiar, pontuada por canções bem
portuguesas.

No
concerto que abriu a segunda noite do Festival Músicas do Mar, os Deolinda
puseram o Diana Bar pelas costuras e mostraram como se pode fazer boa música
investindo em letras que celebram a língua portuguesa e como o fado e a música
de raiz tradicional podem ser um ponto de partida para temas de grande
criatividade. O público rendeu-se à excelente prestação da banda, que
interpretou o seu primeiro álbum, “Canção ao Lado”, saído em Abril deste ano, e
muitos foram os que não quiseram arredar pé sem o cd e o respectivo autógrafo.

Para trás
ficou o Diana Bar e a celebração da música portuguesa e a noite prosseguiu com
um concerto que teve tanto de arrojado quanto de único e em que o funk, o rock
e pop do mais americano possível se misturam com ritmos, instrumentos e até a
língua do Camboja.

No palco do Largo do
Passeio Alegre, os Dengue Fever, banda de Los Angeles, confirmaram porque é que
o Músicas do Mar é uma viagem aos sons do Mundo. Na sua música se fundem e
cruzam culturas tão distintas, servidas pela voz da cantora cambojana Chhom
Nimol e os Dengue Fever tanto pegam em canções cambojanas dos anos 60 como
compõem originais e o resultado é a estranha sensação de se estar num país do
Oriente, pelas letras em khmer e pelas danças ondulantes de Chhom Nimoi, mas
tudo embrulhado na mais ocidental das sonoridades. Uma mistura única, sem
dúvida.

E, em
termos de concertos, a noite encerrou com os ritmos diabólicos dos Alamaailman
Vasarat, banda finlandesa que manteve o Largo do Passeio Alegre cheio de
público até bem tarde. A música da banda é tão difícil de caracterizar como é
de pronunciar o seu nome, mas o resultado é uma energia transbordante e um
ritmo imparável, entre o heavy metal, música cigana dos Balcãs, rock progressivo
e até valsas e polkas. E depois há a imagem da banda, claro, com as figuras de
Jarno Sarkula nos saxofones, clarinetes e flautas e a quem cabe, volta e meia
uma apresentação das músicas com indicações irónicas e absurdas, e de Erno
Haukkala, nos trombones e tuba, que circula por todo o palco, num desafio
permanente à assistência para que dance e entre na música da banda.

Aproveitando que a vontade de dançar era já muita, depois dos
Alamaailman Vasarat, foi só dar um salto ao Auditório da Lota e entrar no ritmo
das músicas seleccionadas pelos djs Bailarico Sofisticado. E nem a chuva
impediu a festa. Madrugada dentro, muita gente dançou ao ar livre e viveu o
espírito do Músicas do Mar, um festival que se nota já ter conquistado o seu público
e que se afirma pela diversidade de concertos que, em cada noite, oferece –
músicas diferentes e para os mais variados gostos e onde a qualidade é a única
coisa que não varia.

Infelizmente, hoje entra-se no último dia. Às 18h00 a música sai à rua
com os Farra Fanfarra, banda radicada em Lisboa, mas que reúne perto de duas
dezenas de músicos de vários pontos da Europa. A noite abre no Diana Bar, às
21h00, com o concerto do pianista Aron Ottingnon, vindo da Nova Zelândia,
prossegue no Largo do Passeio Alegre com a italiana Rosapaeda e termina com a
música dos marroquinos Hoba Hoba Spirit.