Mas há também a celebração das coisas simples que, por vezes, nos fazem sentir que estamos sentados no topo do mundo, “sittin´ on top of the world”, como ontem se ouviu no Diana Bar. Os blues são a vida passada para a música, sentimentos que todos entendemos e experimentamos postos em letras simples, directas e envolvidas num embalo que é mais de rio, mas que se pode trazer para um festival que se quer de músicas do mar. Nas margens de um outro rio, o Tejo, os Nobody´s Bizness adoptaram os blues como a sua forma de expressão e ontem à noite trouxeram-nos à Póvoa para o primeiro concerto da noite do Festival Músicas do Mar.

Espaço no Diana Bar quase não havia e, durante uma hora, o público deixou-se levar pela excelente interpretação da banda, que se declarou em estreia absoluta em concerto no norte do país – foi, com certeza, o primeiro de muitos. Blues antigos, doa anos 30, 40, que continuam irresistivelmente actuais, interpretados com muita garra e cumplicidade.

Mas o Músicas do Mar é a celebração de uma grande variedade de ritmos e culturas, por isso, quem acompanha o festival já sabe que numa noite a viagem pode ser longa. E sair do Diana Bar para o Passeio Alegre, ontem à noite, significou deixar a música de raiz americana para dar um salto à Nigéria e ouvir o contagiante ritmo de Dele Sosimi, que faz a fusão entre os ritmos africanos, o funk o soul e até os latino-americanos, naquilo que se convencionou chamar afrobeat.

O músico, radicado em Londres, apareceu em palco com a sua Afrobeat Orchestra, composta por excelentes músicos, e deu um concerto que o público não queria deixar acabar. Dele Sosimi, provavelmente o músico nigeriano que mais palavras aprendeu em português, teve que voltar ao palco a tocar mais uma música, porque o público assim o exigiu, demonstrando desta forma o quanto apreciou a sua actuação. A poderosa percussão africana, a excelente secção de instrumentos de sopro e a carismática presença de Sosimi, que comunicou de forma excelente com o público, podem ajudar a perceber o sucesso deste contagiante concerto, que
encerrou a primeira noite do Músicas do Mar.

O festival abriu esta sua segunda edição ao fim da tarde, às 18h00, com outra das vertentes que o caracterizam – os concertos de rua. E para abrir, vieram os galegos Serra-lhe Aí!!! & Ivan Costa, que começaram a sua actuação junto à Igreja de Santiago, num dos topos da Rua da Junqueira. Pouco a pouco, conquistando quem passava e parava para ouvir e até ousar um pé de dança com os músicos, o grupo foi seguindo com a sua contagiante música, de raiz tradicional, marcada pelas gaitas de foles, pelo acordeão, as pandeiretas e as vozes desgarradas, pela Junqueira até ao Largo Dr. David Alves e o Largo do Passeio Alegre.

E hoje, às 18h00, os Serra-lhe Aí!!! voltam para mais concertos de rua, a anunciar o segundo dia do festival, que depois será composto pelos concertos dos Deolinda, às 21h00, no Diana Bar, dos californianos/cambojanos Dengue Fever, às 22h00, e dos finlandeses Alamaailman Vasarat, às 23h15, ambos no palco do Passeio Alegre.

E como se não bastasse, a música vai seguir pela noite dentro, mas com os djs Bailarico Sofisticado, a partir da meia-noite e meia, no Auditório da Lota.