A este problema de falta de comunicação
segue-se outro: a falta de emprego. Não falando português torna-se mais
difícil encontrar um trabalho, principalmente para as mulheres. Christine Reeh
afirma que a maioria das imigrantes, depois de terem filhos, optam por cuidar
apenas da casa, já que a despesa com uma creche é superior aos seus salários. Isto
aconteceu com Vânia, que saiu da Bulgária para se tornar independente dos pais
e acabou por se tornar dependente de Ivo, seu companheiro, em Portugal e depois
em Espanha. A jovem deixa o seu país em busca da concretização dos seus sonhos
e de uma vida melhor e é confrontada com medos, preconceitos e desilusões.
À
espera da Europa
foca a esperança que a entrada para a Comunidade Europeia
melhore as condições de vida nos países de origem dos imigrantes de leste e que
estes possam regressar a uma terra de oportunidades. A realizadora alemã explica
que “a Europa é a expectativa da estabilidade económica. Quando vamos à
Bulgária e falamos com a geração mais velha, constatamos que pensam que é uma
tragédia os jovens saírem do país e todos dizem que estão à espera da Europa
para que eles regressem”.

realizadora do filme

A realizadora Christine Reeh.

Terminada
a exibição, o público, interessado num tema actual, mas que faz parte da
história de Portugal, pôde fazer as suas críticas e tirar dúvidas. Uma das
curiosidades era saber como as duas mulheres se conheceram. Christine Reeh
contou que soube de “uma linda jovem búlgara que fazia doces tradicionais do
seu país num café perto de minha casa”. Após tê-la conhecido soube ter
encontrado a sua “personagem” para o seu documentário. Vânia trabalhava numa
tasca frequentado apenas por homens, na sua maior parte alcoólicos, na rua onde
a realizadora mora.
À
espera da Europa
espelha o objectivo da autora que quis mostrar outra
realidade das mulheres imigrantes, que não o da prostituição. Christine Reeh
explicou que “a Vânia é uma jovem com o 12º ano de escolaridade proveniente de
uma família que não passa fome” e que, por curiosidade e vontade de melhorar a
sua vida vem para Portugal.

plateia

Luís
Diamantino, vereador da Cultura e da Acção Social, relembrou o que os portugueses
passaram quando começaram a emigrar para França: “o que aconteceu com a Vânia,
também aconteceu com os nossos emigrantes. Saíam de Portugal sem saber falar
francês, sem perspectivas de emprego e só conviviam com outros portugueses. Por
isso, pode dizer-se que este é um documentário sobre uma jovem búlgara, mas que
podia ser sobre uma portuguesa, brasileira ou moçambicana”.

Inês
Fontinha, da Associação O Ninho, esteve presente na estreia do filme e
comentou que “o que a Vânia está a passar é o que muitas mulheres portuguesas
passam no seu próprio país porque fazem, por vezes, o mesmo trabalho dos homens
e são menos remuneradas” acrescentando que, quando as mulheres optam pela
emigração, existem máfias e organizações que as desviam para a prostituição.  
 

Este
debate foi moderado pelo jornalista Alberto Serra.