“O Canto Gregoriano: Da música do poder ao poder da música” foi o título
escolhido pelo conferencista doutorado em Ciências Musicais Históricas pela
Universidade de Coimbra que, pela segunda vez consecutiva, assumiu a abertura
deste ciclo a decorrer durante o mês de Maio.

Foi ao som da IV
Sinfonia em Ré Menor de Luís Freitas Branco que José Maria Pedrosa revelou que
“o Canto Gregoriano é a fonte de toda a música ocidental. Sem o Gregoriano a
música europeia seria outra coisa. Mas o Gregoriano, em rigor, não é sinónimo de
cantochão: houve (há) outros cantochãos”, alertou. Apesar de não existirem
documentos que comprovem que o Papa São Gregório se tenha ocupado da dimensão
musical da liturgia, está subjacente a este canto o envolvimento do Papa e a
inspiração divina, “o Gregoriano é obra de S. Gregório”. “O Canto Gregoriano só
existe devido ao poder” afirmou o conferencista lembrando que foi graças ao
interesse de Carlos Magno, no século VIII, que tomando a peito o problema da
música e da liturgia
, esclareceu a prática litúrgica no seu
império. Carlos Magno assumiu o poder político da cristandade e fez com que o
Canto Gregoriano se assumisse como afirmação do seu poder e unificação do seu
império. “Ocorre, em finais do século VIII e início do século IX, uma espécie de
«mestiçagem», resultado do encontro da tradição musical romana com a tradição
galiana que se afirma na Gália e até em Roma”, levando à unificação do Império
pela Liturgia e pela Música, excepto nas Espanhas (séc. IX). A partir de 1081, o
Gregoriano assume-se como cantochão da Igreja Romana, consolidando-se a vitória
do Gregoriano sobre o canto moçárabe. Nos tratados do século IX, sobressai o
Canto Gregoriano como fonte de polifonia culta e é em Paris, graças ao estilo
gótico da catedral de Notre Dame
,
que os músicos
inventam uma polifonia a quatro vozes.   A herança histórica da teoria
gregoriana revela-se nas formas, da antifonia e responsarialidade ao
concertante; das melodias prototípicas à liberdade de criação e no tratamento
diversificado. Para além disso, o sistema modal surge como base do sistema tonal
e, em plena crise da tonalidade, como oferta de novas soluções para a música do
século XX.

Ciclo Musica Sacra 2008 01

José Maria Pedrosa
referiu ainda que o Gregoriano é uma componente do Romantismo e comprovou-o com
o primeiro grande exemplo da música romântica que buscou inspiração no Canto
Gregoriano, Sinfonia Fantástica
de H. Berlioz e também Dansa
macabra
de F. Liszt, que utiliza vários cantos gregorianos para
compor obras românticas magistrais. “O Canto Gregoriano, música histórica que
fez História, faz parte da cultura, da música ocidental e de todo o mundo”,
concluiu o conferencista.

O programa da 3ª
edição do Ciclo de Música Sacra prossegue, no dia 2 de Maio, às 21h30, com um
encontro de coros paroquiais, que reúne coros de Aguçadoura, Balasar, Rates e
Póvoa de Varzim (coro Capela Marta).

No dia 4 de Maio
actua o Coral “Ensaio”, da Escola de Música da Póvoa de Varzim, que se apresenta
às 18h30, na Igreja de Rates, com Gerhard Doderer no órgão. No dia 11, às 18h30,
as vozes serão as do Coro Gregoriano de “La Santa”, de Ávila, grupo de vozes
masculinas que nasce do interesse pelo canto gregoriano dentro da liturgia da
missa. Criado em 1996, o Coro Gregoriano “La Santa” actua regularmente nas
missas de domingo da Igreja de Santa Teresa de Ávila e é convidado para
solenizar celebrações litúrgicas noutros templos da região de Ávila, em Espanha.

Depois das vozes
masculinas deste coro espanhol, actuam as vozes femininas do grupo Media Vox
Ensemble, de Lisboa, no dia 18 de Maio, às 18h30. Formado em Junho de 2004, o
grupo é composto por quatro vozes, utiliza réplicas de instrumentos da época e
tem-se dedicado à investigação do feminino na música sacra medieval, sendo o seu
repertório actual composto por Canto Gregoriano, Hildegard Von Bingen (1098 –
1179) e polifonia medieval.

Ciclo Musica Sacra 2008 02

O Ciclo de Música
Sacra termina no dia 25 de Maio, às 18h30, com o concerto dos Anima Mea, grupo
do Porto, criado em 2004, que corporiza um projecto musical que pretende
divulgar o património da música vocal polifónica, em particular da música
portuguesa e ibérica dos sécs. XVI – XVIII. O coro Anima Mea é constituído por
18 elementos e integra também intérpretes de órgão e flauta.

Do programa deste
Ciclo de Música Sacra, que é uma organização da Junta de Freguesia e do Conselho
Pastoral Paroquial de São Pedro de Rates, com o apoio da Câmara Municipal, faz
também parte o segundo curso de fundamentos em direcção coral e técnica vocal,
que decorre no
Auditório Municipal, de 9 a 11 de Maio. O curso está aberto à
participação de todos os interessados, mediante o pagamento de uma inscrição
simbólica. As inscrições podem ser feitas no Cartório Paroquial de Rates ou na
Junta de Freguesia. Quanto aos concertos e à conferência que constituem o
restante programa, são de entrada livre.