Com o nome da emblemática sala de
cinema e teatro da Póvoa, este é um livro de poemas, com ilustrações de Anabela
Dias, sobre a cidade, nos inícios do século XX, a cidade que Vergílio Alberto
Vieira tão bem conhece e onde passou períodos marcantes da sua adolescência e
juventude. Por isso, e a este propósito, diz ainda o autor: “(…) esse nunca
resolvido caso de amor que, já não sendo sonho de infância, se descobriu ao
espelho de cada verão adolescente. Não se tratando, porém, de amor declarado,
nunca a suspeita denunciou a antiga promessa de quem, um dia, jurou agradecer o
lenço de namorados, a azul bordado, para ocultar saudade, e lágrimas de sal.
Sem se fazer anunciar, e porque tanto mar por nós escreveu cartas de amor, essa
paixão de outrora voltou. Tem, agora, forma de livro, de livro de horas,
cinquenta anos depois. Cinema é fita; Garrett, nome de amante. Porque é fuga o
tempo de outro tempo, e engano de alma o fingimento cego da paixão, aqui fica
este sentido madrigal de quem sempre ficou, quando partia.”

Vergílio
Alberto Vieira é um poeta de permanentes andanças e múltiplas aventuras
poéticas, seja para adultos, seja na literatura infanto-juvenil. Com este Cinema Garrett, um texto para meninos de
todas as idades, o poeta fala da Póvoa de Varzim como o seu “caso de amor”. Em
17 poemas, que mais parecem pinturas ou esquissos da realidade apreendida por
um olhar feito de fundura e limpidez, o poeta desvenda os poveiros e a sua
espiritualidade, os seus locais a modo de raízes de água salgada, os seus
protagonistas e costumes, os recantos de encanto e saudade. E tudo como num
filme, em câmara lenta, para se demorar nos olhos doces das palavras e as
namorar desmesuradamente.