Os bilhetes têm o custo de 7,00€ e de 5,00€ com desconto (para estudantes, reformados, menores de 25 anos e maiores de 65 anos, desempregados, pessoas portadoras de deficiência e grupos de 8 pessoas). Associados ao Varazim Teatro pagam apenas 3,50€.

Os ingressos estão disponíveis nas lojas Fnac, Worten e CTT, em https://www.bol.pt e no balcão do Cine-Teatro Garrett. O horário de funcionamento do Garrett é o seguinte: 10h30-12h30 e 15h30-17h30 de segunda a sexta-feira, e a partir das 15h30 em dias de espetáculo.

Reservas a partir do email vt@varazimteatro.org e dos telefones Varazim Teatro (916 439 009 e 912 420 129) e Cine-Teatro Garrett (252 090 210).

 “Destilar a vida…

Dois velhos sentados num banco de jardim…O tempo parece suspenso nas horas imóveis do parque, no outono esquecido da vida. Adivinham se as voltas do mundo na música que vem de longe, da infância ou do futuro, e que nos vai ensinando que “a beira do fim é tão preciosa como a beira do principio”. Aparentemente, tudo está parado numa peça sobre a fronteira em que a vida quase se despede de quem quase se despede da vida. Mas “Crise no Parque Eduardo VII” é teatro que subverte as aparências, mostrando como a vida se inventa em cada palavra e em cada gesto do entardecer. Dois velhos, sentados num banco de jardim…Poderiam ser o palhaço rico e o palhaço pobre, ou Arlequim e Pierrot, ou Vladimir e Estragon à espera de Godot… Mas, sem deixarem de ter um pouco de cada um destes pares de personagens, João Bernardo e Hugo, D. Quixote e Sancho Pança, nas suas tensões, na sua complementaridade, no seu jogo perante o mundo, nas contradições de que se faz o seu e o nosso carrocel da vida. É por isso que esta peça não é apenas uma comédia, nem é apenas uma tragédia, mas é uma comédia às costas da tragédia e, simultaneamente, uma tragédia vestida de comédia. É o riso cravado no drama do quotidiano. É o sonho encenado no realismo existência, o inconformismo que tropeça nas rasteiras da idade, o humor que rasga, com a sua ternura, as certezas cinzentas do dia-a-dia de quem aparece condenado a esperar que o dia anoiteça. Um velho, porteiro reformado, prestes a ser arrumado no baú das recordações, a contar com mais um dia depois do dia que aí vem: “Somos velhos, não somos ricos e cometemos o pecado de viver devagar”. Outro velho, comunista, ainda e sempre, com a fé suficiente para mudar o mundo e salvar os homens: “as ideias continuam a ser boas e belas, as ideias mantêm-se, são melhores que as pessoas que lhes deram origem”. E desfilam pela cena pedaços da cidade que lhes pertence e a que eles também pertencem: Daniel, o Presidente da Comissão de Condóminos, Laura, ex-toxicodependente, perseguida pelo passador, que não quer o nome em saldo na praça pública, Diogo, o jovem que “crava” três notas para proteger os velhos de si próprio, e Elsa, a filha de João Bernardo que se esqueceu dos seus ideais revolucionários e o quer pôr num lar de terceira idade, para poder chegar tranquila ao fim da semana. E, perante este desfile, João, o Dom Quixote do Parque, arrasta Hugo, o seu Sancho Pança, para o teatro em movimento, o teatro dentro do teatro: “a gente serve-se da personalidade que dá mais jeito na ocasião”: espião, advogado, capitão da polícia, chefe da Mafia, deputado jubilado, tubarão da cidade…

João e Hugo, protagonistas de “Crise no Parque Eduardo VII”. Dois velhos, nos seus corpos quase parados num banco de jardim. Mas vivos, “autênticos milagres da natureza”. Tudo menos inúteis: “Digam-lhe que é lento ou que é estúpido, mas se lhe dizem que é inútil isso já é um pecado, um pecado contra a vida, é fazer aborto pelo outro lado”.

Nesta peça os protagonistas têm o corpo do seu corpo, mas têm também a força das suas palavras e das suas ideias, que evoluem como personagens numa cena quase vazia: “Está tudo na cabeça…O corpo andou sempre atrás, à boleia!…”

“Crise no Parque Eduardo VII”, mais do que uma peça sobre o entardecer da vida, é um hino à capacidade de a inventar no palco dos nossos sonhos e nos bastidores das nossas fraquezas. Como se as notas soltas de um piano se transformassem destiladamente no realejo de um carrossel em que o dia recomeça…” (João Maria André)