No âmbito dos Fins de Semana Gastronómicos, os dias 30 de novembro, 1 e 2 de dezembro, serão dedicados à Pescada e à Rabanada à Poveira, nos 15 restaurantes aderentes. E são eles: 31 de Janeiro, Bar da Praia, Costa, Estrela do Mar, Ibérica, Lota do Peixe, Manjar dos Leitões, Marcelino, O Campino, O Pátio, Os Três Rapazes, Recife, Romero, Santo André e Veromar.

A propósito desta iniciativa, o município poveiro esteve presente, na passada quarta-feira, dia 21, na conferência de imprensa de apresentação deste projeto promovido pela Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal, e lançamento da respetiva brochura, que decorreu em Vila Verde. Cada município presente na sessão foi convidado a apresentar,
brevemente, as suas sugestões no âmbito dos “Fins de semana Gastronómicos”.
Feita a apresentação dos pratos, procedeu-se à prova das iguarias com que cada concelho se fez representar, tendo a Rabanada à Poveira assumido o já habitual destaque entre os demais produtos regionais presentes na degustação.

Este doce tão popular na Póvoa será alvo do XV Concurso Delícia de Rabanada, no dia 2 de dezembro, entre as 16h00 e as 18h00. O júri vai proceder à prova das rabanadas, numa sessão que vai decorrer no Posto de Turismo e que será, como sempre, aberta também à participação do público que poderá votar no seu doce preferido (“Prémio do Público”).

Para além dos doces confecionados pelos participantes nesta edição, estarão também à venda os premiados na edição anterior a 1,00 € a unidade, sendo que a receita reverte a favor de uma Instituição concelhia (IPSS), a sortear durante o evento.

A criação destas duas principais referências gastronómicas (Pescada à Poveira e Rabanada à Poveira) deve-se a Leonardo Graça da Mata (1903-1997). Cozinheiro exímio, inspirou-se nas tradições locais, e soube-lhes dar o toque criativo que as individualizaram. Deixou à Póvoa um legado importantíssimo, sendo responsável pelo estatuto que a Pescada e a Rabanada Poveira adquiriram dentro da gastronomia tradicional.

Para compreender melhor a origem destes pratos, leia a informação que lhe deixamos. No entanto, nada melhor do que saboreá-los no fim de semana que se aproxima num dos estabelecimentos que os irão confecionar.

Pescada à Poveira

Este prato foi criado e apresentado pelo Sr. Leonardo no seu restaurante, pelo menos, desde o princípio da década de 40 do século XX. A confeção parece ter tido como fonte de inspiração a consoada do pescador poveiro e a apresentação teve como base a forma de preparação dos farnéis, nomeadamente, para as romarias. Diz-nos a Drª Maria da Glória Martins da Costa (“O Comer do Pescador Poveiro”, In Boletim Cultural da Póvoa de Varzim, nº XXVII, nº1, 1990), que o arroz que se preparava para levar à romaria era feito numa rabeta de barro que, depois de embrulhada num jornal, era “posta num guardanapo grande de olhos. As pontas do guardanapo eram atadas em cruz, duas a duas, por cima do testo”. Na sua confeção eram utilizados ingredientes locais. A pescada era uma das principais capturas que os pescadores poveiros faziam, sendo conhecida pela “pescada da Póvoa”. Havia mesmo embarcações especializadas neste tipo de pesca – a Lancha Poveira do alto. Os vegetais provinham da fértil zona envolvente, sendo famosas as “batatas de Aver-o-Mar”. O sucesso deste prato criou seguidores e hoje encontramos esta oferta em vários restaurantes da cidade que, seguindo o padrão base, apresentam várias cambiantes, nomeadamente na variação dos legumes utilizados e na confeção do molho.

Rabanada à Poveira

A rabanada é um doce de referência na comunidade piscatória poveira.

Elaborada com base em ingredientes acessíveis, enquadra-se bem numa população cujas raízes não se sustentam na abundância e que incorporam na gastronomia a singeleza da sua vida quotidiana. A diferença estava na criatividade de quem confecionava, por isso a Rabanada está longe de ser um produto homogéneo. De casa para casa, ou mesmo em cada família, encontravam-se várias soluções, segundo as posses ou os gostos, e reforçam-se assim os sabores com diferentes opções (vinho branco, tinto e do porto, leite, água, etc.)

No entanto, o que associa a Póvoa à Rabanada não é propriamente esta tradição familiar. A conhecida “Rabanada Poveira” é um produto mais recente, com forte feição comercial, e fruto de uma adaptação das tradições locais. Mais uma vez o responsável foi o Sr. Leonardo.

No início da década de 50, o Sr. Leonardo teve a ideia de apresentar a “Rabanada” na ementa do seu restaurante, procurando assim encontrar uma solução para as sobras de pão, o chamado bijou ou molete, mas designado pelos poveiros de “trigo”. Recorde-se que tradicionalmente as rabanadas eram feitas de pão cacete. Definido o propósito, o Sr. Leonardo pôs mãos à obra no sentido de conseguir um resultado convincente. Um percurso feito de tentativas até obter o resultado pretendido. A questão fundamental sempre foi a qualidade do pão facto que, com o passar dos tempos e a moda do “pão quente” veio dificultar a tarefa.

Mantendo a tradição da comunidade piscatória – os ingredientes são básicos – o resultado final em muito depende da mestria do cozinheiro. O Sr. José da Mata conta que havia entre os compradores de rabanadas no restaurante clientes que sabiam distinguir quando os doces eram feitos pelo Sr. Leonardo ou pelos funcionários.

O sucesso das “Rabanadas Poveiras” ou das “Rabanadas do Leonardo” levava a grande procura deste produto quer na Póvoa quer na região, sendo frequente o envio para o Brasil. Era “obrigatório” que quem nos visitasse levasse para casa uns exemplares do doce de referência da Póvoa. Contou o Sr. José da Mata que em certas situações (exemplo de jogos com equipas que traziam muitos adeptos) era necessário haver polícia para disciplinar a fila que se formava para comprar as rabanadas.

Este doce sobreviveu à morte do seu criador e é hoje possível encontrá-lo na ementa de muitos restaurantes da cidade com um toque pessoal que o individualiza.