Na passada sexta-feira à noite, realizou-se, no Museu Municipal, a apresentação do livro “Moçambique na I Guerra Mundial. Diário de um alferes-médico Joaquim Alves Correia de Araújo” de Teresa Araújo, Diretora do Arquivo Municipal.
Em setenta e sete páginas de um caderno escritas à mão o jovem alferes médico Joaquim Alves Correia de Araújo, participante da campanha portuguesa em Moçambique, relata os dezanove meses mais intensos da sua vida, e talvez os mais duros, desde a manhã do dia 23 de Abril de 1917 em que saiu de Requião para integrar o contingente de infantaria 31 que embarcaria no vapor Portugal com destino a Mocímboa da Praia.
Com 100.000 reis dados pelo pai, Joaquim parte para o desconhecido mas sempre com o apoio da família que nunca o larga, quer na viagem de comboio, no rápido até Lisboa, quer nas inúmeras cartas e postais que recebe, nomeadamente dos irmãos que provam e demonstram a união e o afeto entre eles. Até o irmão mais novo, o Carlinhos, como carinhosamente o trata, de 15 anos se corresponde com ele.
Dia a dia, Joaquim relata na primeira pessoa, a experiência por que passaram as tropas e oficiais portugueses nos principais palcos do teatro da guerra em Moçambique: Mocímboa, Chomba, Necatur, Negomano, Xefina, Lourenço Marques.
Através do seu diário conhecemos o ataque de Negomano, e a “debandada” (termo seu) em Chomba, onde estava operacional, provocada pelas notícias da aproximação de grossas colunas de forças alemãs, que acabariam por se dirigir para Negomano, culminando com o ataque a 25 de Novembro de 1917.
Sem nunca entrar numa narrativa expositiva das suas emoções perante os acontecimentos que estava a viver, ou mesmo condenando ou aprovando o conflito, o já então tenente – médico Joaquim deixa, no entanto, transparecer um grande sentido patriótico e de responsabilidade. Ao ponto de criticar severamente o diretor do hospital, que às primeiras notícias da aproximação dos alemães, “pôs-se na alheta e deixou os doentes”, ou então a “figura tristíssima que muitos oficiais fazem” chorando e implorando para os mandarem para casa.
A iniciativa insere-se no ciclo de conferências levadas a cabo pelo Museu Municipal com o tema “A Póvoa de Varzim na Grande Guerra” e contou com a presença de Lucinda Delgado, Vereadora da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim.
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