A autora explica que «o meu trabalho artístico começou por se desenvolver segundo uma base temática: o tempo.

“Memórias De Um Tempo Não Vivido” foi o título que eu achei apropriado para o conjunto de pinturas, pois dão a conhecer algumas memórias da minha família, de um tempo onde as pessoas tinham carisma. Por terem tão pouco, davam mais valor ao que tinham e ao que, com muito esforço conseguiam obter. O trabalho, a felicidade e o amor estavam estampados nos seus rostos. Eu não participei destas lembranças porque remetem para uma época em que eu ainda não era nascida, no entanto, ao inserir-me na composição do quadro, é como se, no meu pensamento, eu estivesse estado presente nesses momentos. Como se na minha imaginação, esse desejo fosse concretizado.

O meu retrato, que foi acrescentado em cada pintura, simboliza um vazio que tem que ser preenchido, a tal vontade de ter nascido há trinta, quarenta anos atrás e de realmente ter vivido aqueles momentos, aqueles instantes. O meu interior expõe-se ao exterior. Eu confronto-me porque procuro entender-me.

Nas minhas pinturas eu procuro um resgate de sensações. Apesar de as memórias retratadas não serem minhas, eu procuro sentir o que os meus familiares sentiram naquele momento e o que experienciam agora ao serem confrontados com estas recordações. Acima de tudo, eles são defrontados com a efemeridade da vida. O mundo está em constante movimento. As coisas alteram-se, os tempos mudam, as memórias são esquecidas e as pessoas acabam por morrer. É triste pensarmos que, de facto, não podemos voltar àquele instante novamente e viver tudo outra vez. Pior é quando as próprias pessoas já são apenas lembranças. Quando nos deparamos com certas fotografias e apercebemo-nos que somos os únicos que ainda estamos vivos e que tudo o resto desapareceu. Há uma comparação entre o passado e o presente, pelo que a minha figura só vem reforçar esse presente.

A minha preocupação é captar o espírito, a alma que é projetada no olhar. A personalidade da pessoa expõe-se. É nos olhos que detetamos a raiva, a sinceridade, o amor, a bondade, a tristeza, …. Captar a expressão é o elemento essencial do meu trabalho.

Após a conclusão e reflexão sobre estes trabalhos, senti uma vontade de me destacar nas pinturas. Ao invés de parecer que a minha figura pertence à imagem retratada no quadro, pelo uso da mesma cor em toda a tela, procuro criar um contraste de cor que acentue a “intrusão” da minha figura. Por outro lado, tento trazer algum humor para os trabalhos e, por isso, acrescento também outros elementos que permitam criar este novo ambiente.

O meu trabalho artístico é pensado para o espectador, O meu objetivo é confrontá-lo com o seu passado, com as suas próprias memórias. Esta relação com o observador remete o meu trabalho para o campo da teatralidade”.

 

Nota biográfica/ Currículo

Nome completo: Sara Filipa Teixeira Fangueiro da Mata

Nome artístico: Sara Mata

Data de nascimento: 6 de Junho de 1990

Habilitações académicas: Licenciatura em Artes Plásticas- Pintura

Instituição: Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto

Exposições coletivas: Palácio das Artes (Porto,2010)

Seleção para a “Mostra UP 2011” (Palácio de Cristal) com a pintura “Não Me Faças Rir”

Casa Museu Guerra Junqueiro (Porto,2011)

Casa das Artes Mário Elias, Concurso MertolArte 2012 (Mértola)

XXV Salão de Primavera (Galeria de Arte Casino Estoril, 2012)

“MatchPoint”: Exposição de Estudantes Finalistas de Pintura da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (Biblioteca Almeida Garrett, 2012)

VIII Bienal de Vidigueira

XXVI Salão de Outono- Homenagem a Jorge Amado (Galeria de Arte Casino Estoril, 2012)

17ª Bienal de Cerveira (Cerveira, 2013)

Exposições individuais: “Memórias de um Tempo Não Vivido” (Galeria EspaçoD’Artes, Vila Real. 2013)

Prémios: Menção Honrosa pela obra “Eu Estava Lá” no “XXV Salão de Primavera” (Galeria de Arte do Casino Estoril)