Entre 1914 e 1918, Portugal enviou mais de 20 mil soldados da metrópole para Moçambique com o objetivo de garantirem a defesa do território da colónia face aos alemães instalados a Norte, na atual Tanzânia. Mas, apesar da sua superioridade em número e no equipamento, os soldados portugueses foram condenados a uma missão impossível. As divisões internas entre republicanos e monárquicos, o desleixo com as regras sanitárias, a impreparação para as doenças tropicais, as dificuldades de um país arruinado para manter duas expedições a milhares de quilómetros de distância, na Flandres e na fronteira do rio Rovuma, a incompetência e a falta de vontade de combater tornaram a aventura em moçambicana o maior desastre das tropas nacionais em África desde Alcácer Quibir. Na Primeira Grande Guerra em Moçambique morreram mais portugueses do que na frente europeia e as memórias do sofrimento dos soldados, as denúncias de abandono, os episódios de cobardia e de incompetência dos chefes ou a vergonha pelas derrotas em Nevala ou em Negomano alimentaram a raiva contra a República que impulsionou o 28 de Maio. Mas, deposto o regime, o Estado Novo tratou de apagar da história esses fracassos coletivos, inconvenientes para um país com pretensões coloniais. Os cemitérios da Grande Guerra abandonados ou os ossários expostos ao ar que persistem em Moçambique são o testemunho de que essa vontade de esquecer perdurou até aos nossos dias.

Manuel Carvalho é jornalista e integrou a equipa fundadora do Público. Com exceção de um breve período entre 1999 e 2000, em que fez parte da equipa do Diário Económico, desenvolveu todo o seu percurso profissional na redação do Porto do jornal, ocupando entre 2000 e 2013 as funções de subdiretor, de diretor adjunto e, atualmente, as de redator principal. Nascido em Alijó, Alto Douro, fez os seus estudos superiores no Porto, primeiro com um bacharelato na Escola Normal e mais tarde na Faculdade de Direito e no curso de História da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde se licenciou. Foi professor do ensino básico durante dois anos e fez parte do grupo de jovens selecionados em 1989 para formar a primeira redação do Público. Fez o curso de jornalismo do Cenjor e foi fellow do German Marshall Fund, nos Estados Unidos, e do International Studies and Training, no Japão. Venceu vários prémios de jornalismo, o último dos quais em 2015 – o Prémio Gazeta de Imprensa com a série de reportagens sobre a Primeira Guerra Mundial em Moçambique que estão na base deste livro. Integra o painel de comentadores de assuntos políticos e económicos da RTP3 e da RTP2.