Maria do Céu Guerra tem aqui
uma das suas maiores interpretações, que lhe valeu o Prémio UNESCO do Festival
de Artes Cénicas da Expo’92, em Sevilha. O texto é de 1522 e nele Gil Vicente
volta a evidenciar o seu humor mordaz, centrando-se o monólogo na “lamentação”,
posta na boca de uma velha bêbeda que, além disso, é mulata e, por isso, se
chama ‘Parda’. Nesse ano, o reino enfrentou um terrível período de fome, os
camponeses esfaimados morriam ao longo dos caminhos, mas Maria Parda é uma
mulher que se lamenta pela falta de vinho.

Maria
Parda a morrer à sede é a imagem invertida dos desgraçados que morriam à fome. O
seu desespero é cómico e o seu testemunho burlesco. É assim que a personagem
exorciza o drama da fome. Ou seja, “O Pranto de Maria Parda” é uma paródia em
que se esconjura e elimina o sofrimento e a morte.

E a encerrar a temporada teatral que,
na Póvoa de Varzim, traz uma peça de teatro à cidade no primeiro sábado de cada
mês, o Varazim Teatro volta a apresentar “Contracurva”, de 9 a 14 de Junho, às
22h, no Espaço d’ Mente, sede do grupo, na Rua da Fortaleza, nº20.

Com texto, direcção e interpretação de Eduardo
Faria, “Contracurva“ passa-se no aniversário de Lázaro, tetraplégico que
convida todos os que queiram a comemorar com ele os seus 40 anos. Abandonado no
esquecimento de toda uma sociedade e recordado a cada momento pela dor da sua
prisão física, Lazaro continua a amar todas as coisas simples, a Vida. Trata-se
de um projecto de vertente experimentalista, onde actor e público habitam ao
mesmo tempo o mesmo espaço físico e temporal e através do qual o Varazim lança
o desafio: “Todos pensamos poder dizer sim ou não a uma pergunta directa sobre
se concordamos ou não com a prática da Eutanásia. E se fossemos chamados a ter
de decidir se a praticamos ou não? Qual seria a nossa reacção? É esta a reflexão
que o espectáculo Contracurva pretende provocar!”