O Sangue da Terra, de Sofia Marrecas Ferreira é, à semelhança de outros livros da autora, uma obra onde as mulheres são as personagens centrais. É um livro sobre afectos, “mais do que o amor, que é sereno, é um livro sobre a paixão, porque esta é violenta, causa dor e sofrimento”. Mãe e filha são as personagens que se apaixonam, em tempos diferentes, por dois homens casados. A mãe vive apaixonada há 20 anos por um homem que continua apaixonado pela sua falecida esposa. Já a filha, que teve acesso a uma educação diferente da de sua mãe “tem mais instrumentos para lidar com a sua paixão”. “Os meus livros são sempre sobre as mulheres. Estas têm uma forma de generosidade, uma forma de dar de si, são sempre mulheres fortes, capazes de sobreviverem sozinhas”, defendeu.

E se em O sangue da terra as personagens centrais são as mulheres, em A sombra do que fomos a história desenrola-se à volta de um dia na vida de quatro veteranos, antigos militantes de esquerda, derrotados pelo golpe de Estado de Pinochet e condenados ao exílio, que decidem encontrar-se 35 anos depois, em Santiago do Chile. “É um exercício pleno de humor”, conta Luís Sepúlveda “e creio que se vão rir com a história destes quatro amigos que são muito parecidos comigo”. O livro nasceu de um episódio vivido por Luís Sepúlveda há três anos, quando, em Santiago do Chile, participou num churrasco com amigos. “O homem que estava a grelhar a carne chamava-se Martín Pascoal. Este foi o homem mais odiado por Pinochet, porque ele foi o comandante de um grupo chamado Frente Patriótica Manuel Rodriguez, que não deu um dia de paz à ditadura.” As memórias do exílio vieram à tona, fotografias de netos a viver em outros países foram exibidas entre todos. “Aquele grupo ali reunido participou no governo de Allende, conhecia a prisão, a tortura, o exílio, a morte de companheiros. E todos regressamos ao Chile. E ali estávamos a demonstrar que a vida continua e é bela”.

Falar destes dois autores e não falar do Correntes d’Escritas é impossível. Se o chileno foi um dos que participou na 1ª edição e foi voltando, Sofia Marrecas Ferreira ficou maravilhada com a sua primeira participação, na 8ª edição. “Ficou apaixonada pelo evento e nós apaixonados por ela”, resumiu Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura. “É sempre motivo de conforto, alegria e uma honra ter aqui escritores que são sobretudo nossos amigos”. Palavras de apreço que o Vereador estendeu a Manuel Valente, da Porto Editora, também ele uma presença assídua no Correntes d’Escritas, e que ontem voltou a falar do “milagre” que é o Encontro de Escritores de Expressão Ibérica, defendendo até que seria mais correcto “chamar-lhe Correntes d’Afectos”. “A Póvoa de Varzim tem qualquer coisa de muito diferente, não sei se é a política cultural. As pessoas vêm aqui e ficam presas” afirmou.

E para demonstrar que, de facto, a Póvoa de Varzim é uma terra que sabe receber e não esquece os seus amigos, Luís Sepúlveda teve direito a uma surpresa muito especial – um bolo de aniversário. De facto, o escritor celebrou este mês mais um aniversário e ninguém presente no Diana Bar se esquivou a cantar os Parabéns.

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