O evento decorreu nos dias 7, 8 e 9 de janeiro, e foi o primeiro encontro científico a ter lugar após a conclusão do projeto de edição da Obra Completa do Padre António Vieira, no âmbito do qual se procedeu à compilação, anotação e posterior disponibilização a um largo público de todos os textos do autor até agora conhecidos.

O edil poveiro referiu-se ao seu conterrâneo como “não só o grande investigador e divulgador da literatura hagiográfica portuguesa, mas também pela continuada e aprofundada investigação da pregação ideológica, designadamente daquela que se centrou na utopia do Quinto Império, ou seja, em António Vieira, a figura central deste Simpósio”.

O Presidente da Câmara Municipal transmitiu que “associar João Francisco Marques a este Simpósio sobre António Vieira é, além de um ato de justa homenagem ao mérito do investigador que inovou metodologicamente quando cruzou o fenómeno religioso com a sociedade e a política, uma chamada de atenção para a pertinência de ser revisitada a história do universo religioso. Porque, se João Marques nos ofereceu a perspetiva unificadora que plenamente o explica, não podemos doravante ignorar quanto o fenómeno religioso é importante na perceção das outras dimensões com que se cruza”.

Aires Pereira realçou, ainda, “a importância nuclear que, para João Marques, tinha a obra de António Vieira, quer em si mesma, quer no contexto global da hagiografia e da parenética portuguesa. Faz, dentro de dias, um ano que a Póvoa de Varzim acolheu, no seu festival literário “Correntes d’Escritas”, a apresentação da Obra Completa do Padre António Vieira – 30 volumes, mais de 12.000 páginas, das quais mais de 3.000 traduzidas diretamente do Latim, numa empreitada que consumiu anos de trabalho de criptólogos, linguistas, historiadores, teólogos, juristas… João Marques, um dos 52 especialistas portugueses e brasileiros que o Prof. José Eduardo Franco eficientemente dirigiu, disse, concluída a apresentação: “Já posso morrer descansado”. E não é que a premonição, contra todas as aparências, se cumpriu, menos de um mês depois?

Se este seu grande projeto estava cumprido, se o 4º e, para ele, último volume da sua “Obra Selecta” estará brevemente nos escaparates, falta-nos, enquanto comunidade, na Póvoa de Varzim que ele tanto amou, perpetuar-lhe a memória e o exemplo. É o que faremos brevemente, lembrando não apenas o académico prestigiado e o investigador reconhecido, mas igualmente o cidadão atento, interveniente e empenhado que João Marques sempre foi, através da presença, assídua, no espaço público, designadamente na imprensa local”.

O Presidente da Câmara revelou que “nada do que à Póvoa dizia respeito lhe era indiferente: como foi, nos anos 1980, a direção do Museu Municipal ou como foi, toda a sua vida, a condição de adepto fervoroso do Clube de Futebol da nossa terra, o Varzim Sport Clube, cuja carreira acompanhou de muito perto.

Lembro esta faceta menos conhecida da vida de João Francisco Marques – que igualmente foi sacerdote, convém lembrar, condição de que nunca abdicou – porque, como disse, ele era a síntese feliz de impulsos vitais aparentemente contraditórios.

No coração de João Francisco Marques até o futebol cabia – e dele, como de tudo, falava, fraternalmente, de cátedra”.