Alberto S. Santos, Fernando Pinto do Amaral, José Jorge Letria, Luís Quintais, Sofia Marrecas Ferreira e Care Santos debateram o verso pessoano sob a moderação de João Gobern.

Alberto S. Santos tomou a palavra, perante uma plateia repleta como já é habitual neste encontro, socorrendo-se das palavras de Fernando Pessoa, do Prefácio da Revista Atena, para chegar depois à questão que a ele próprio se colocou: “terá a arte suprema um lado mais obscuro e negro, uma face escravizante”, que deixa de libertar? E responde, revelando que a “arte eleva-nos, liberta-nos mas traz-nos por fim de volta a verdadeira essência humana”. Através da mitologia grega, exemplifica, “o artista visita o Olimpo, dança com as musas, mas Zeus aponta-lhe o caminho da terra. O artesão da escrita ou de qualquer outra arte pertence à Terra. A arte é o sangue que corre nas veias do tempo, tendo como missão ligar gerações”.

Care Santos, iniciou o seu discurso declarando, “ousarei contradizer Pessoa, o autor que hoje, simbolicamente, preside esta mesa”. A autora catalã afirma que para ela “a arte é comunicação” e que o autor de outrora, Fernando Pessoa e os seus contemporâneos do século XX, não podem agora entender os autores do século XXI, dadas as mudanças culturais, sociais e tecnológicas. Colmata realçando que “o fantasma da dúvida é constante quando existem na escrita inúmeros caminhos a seguir. Então, no final de um qualquer texto, as personagens ganham vontade própria e a história já não é mais do escritor mas sim do leitor”.

Fernando Pinto do Amaral usou o dom da palavra para concordar com Care Santos, partilhando que não está de acordo com a frase do nosso poeta enquanto escritor. “O efeito catártico da literatura e da poesia tem uma função terapêutica, levando a pessoa comum a ser herói por um dia ao encarnar

Personagens”. Contudo, “desenganem-se os autores que escrevem para se imortalizarem através da sua arte, pois tudo tem fim. Porém, toda arte vale a pena, continuem artistas e com a vontade de proporcionar momentos sublimes e de elevação, só não esperem a imortalidade”.

“O Homem é um ser finito capaz de conceber o infinito”, começa, Sofia Marrecas Ferreira, a sua intervenção. Continua, revelando que “Fernando Pessoa libertou o Homem desta casca onde nós não cabemos e por isso é que nós criamos arte”. Deambulando pelo pensamento partilha que “a liberdade que arte nos permite, talvez seja o recusar, o aceitar, o querer, o levar à lágrima, podendo ser o elo comunicacional e o escape para o (re)começar de uma vida”.

Luís Quintais, cuja relação com a frase proposta afirmou não ser fácil, partilha a história da sua mãe sobre o “ ódio visceral que esta tinha à música”. Até que, certo dia, surpreendeu-o a ouvir Bach e, tal situação, elevou-a a um momento sublime de encontro com a arte” mostrando que “as coisas mais terríveis e mais belas acontecem por acidente”. Constata ainda não saber “se a arte é um espaço de libertação”, mas afirma que “é seguramente um espaço de liberdade”.

José Jorge Letria questionou se fazia sentido hierarquizar a arte. Pois, “uma vez arte, o tempo e o ser Humano encarregar-se-ão de a rotular. A arte vence assim a viragem do tempo” mas “acaba por ser sempre a mesma, apenas muda o contexto económico, político e social. Conclui assim que “quase sempre o que nos liberta num sentido aprisiona-nos noutro e, aqui sim, talvez esteja a essência da arte. Tenho contudo, uma certeza, sem ela ficaríamos mais pobres”.

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