O Concelho da Póvoa de Varzim é constituído por 12 freguesias: Aver-o-Mar, Aguçadoura, Amorim, Argivai, Balasar, Beiriz, Estela, Laundos, Navais, Póvoa de Varzim, Rates e Terroso; ocupa uma área de 8224 hectares e conta com cerca de 60000 habitantes. Definido no século XIX, está delineado de forma sinuosa e insinuante… como se do mar uns ombros largos projectassem dois braços terra adentro. Esse extenso abraço vai-se estreitando para o interior, até à união das mãos. É uma configuração que lhe traça o próprio fado, confirmando-lhe a inevitável vocação marítima.

O perfil da cidade da Póvoa de Varzim distingue-se sem dificuldade. Quem não a visita há mais de décadas a custo lhe reconhecerá os traços: a Póvoa do tradicional baixo casario mantém-se, mas a zona da beira mar quis ver mais longe e deixou-se seduzir pela construção em altura. Este rápido crescimento urbano não desfigurou o poveiro, altivo e orgulhoso dos pergaminhos milenares da sua terra que, alicerçando-se na pesca, soube crescer e diversificar as actividades económicas. No século XVIII descobriu uma nova forma de rendimento: o turismo, a par com a pesca e os serviços, com destaque para o comércio, são o sustentáculo económico da cidade de hoje.

Vista aérea da Póvoa de Varzim

Na Póvoa, a partir da pesca e da agricultura, combinaram-se três formas básicas de subsistência: o ancoramento ribeirinho, tendo como actividade exclusiva a pesca; a fixação na orla marítima, onde se granjeia no mar e em terra; a sedentarização interior, enraizada em solo firme. Assim, os condicionalismos geográficos e actividades económicas moldaram diferentes tipos humanos: o pescador poveiro, que vive em estreita ligação com o atlântico e desconhece quase tudo sobre os segredos da terra e da sua produção; o seareiro de Aver-O-Mar e Aguçadoura comprometido na duplicidade terra/mar e, finalmente, o lavrador do interior que tem para com o oceano o respeito circunspecto que lhe merece um quase desconhecido.

O restrito enquadramento geográfico não inibiu nas diversas comunidades o desenvolvimento de certas particularidades. Na indumentária típica reflectem-se essas distinções. A forma de trajar do pescador poveiro destaca-se pela sua originalidade – o traje de branqueta, apresentado pelo Grupo Folclórico Poveiro é somente um dos muitos e interessantes modos de trajar da colmeia piscatória.

Confrontando com as duas outras grandes comunidades, há a notar que os povos da zona litoral, não renegando as influências minhotas, recorrem a tecidos mais quentes, como a flanela e a castorina, reflexo das suas ligações ao mar. Nas danças e cantares espelham-se aspectos da vida quotidiana. Talvez por isso os povos da beira-mar exibam danças mais vivas, como que condicionados pelo incessante rumor das águas, e elevam pouco os braços, invocando, porventura, o lar das redes; enquanto que o lavrador projecta bem os membros superiores para cima, lembrança, quiçá, das fatigantes mas altivas malhadas.

Apesar de tudo isto, o substrato cultural comum cala mais fundo. Salvaguardada a originalidade da comunidade piscatória poveira, os usos e costumes do concelho são fortemente marcados pelas tradições minhotas. O fervor religioso é o mesmo, sendo especial o apego ao culto das almas. Por todo o lado se encontram pequenas construções – Alminhas – invocando Cristo Crucificado ou Nossa Senhora do Carmo, intercessores por excelência das almas do purgatório.

Eis, em termos globais, apresentado o concelho da Póvoa de Varzim, cuja definição administrativa, tal como a conhecemos hoje em dia, data de 1855. A sua história institucional foi atribulada. No princípio do século XVIII, as guerrilhas judiciais com Barcelos, cujo termo entrava Póvoa adentro, foram um grande sorvedouro de recursos autárquicos. A questão arrastou-se desde 1706 até 1717, ano em que foi finalmente resolvida a contento dos poveiros. Mais tarde, aquando da reforma administrativa de 1836, a Póvoa passou de uma só freguesia para 14.