Já há muito que os leitores pediam um novo livro de ficção a Luis Sepúlveda, embrenhado nos últimos anos na escrita de crónicas jornalísticas. Com A Lâmpada de Aladino, Sepúlveda volta em força, com um livro que reúne treze pequenos contos que se passam em sítios tão distantes como a Patagónia, Hamburgo, Alexandria ou Ipanema. E na plateia estavam os amigos do Correntes d’Escritas onde, entre caras anónimas, se viam escritores como Ivo Machado, Rosa Lobato Faria e Aurelino Costa.

De facto, é impossível dissociar Luis Sepúlveda das Correntes d’Escritas, evento único na Península Ibérica que, desde há nove anos, reúne, em Fevereiro, na Póvoa de Varzim, escritores de expressão ibérica. “Se a Póvoa de Varzim é conhecida pelas Correntes d’Escritas deve-o ao Luis Sepúlveda, que desde a primeira hora esteve connosco”, reconheceu Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, verdadeiramente agradado com o facto de a Póvoa de Varzim fazer parte do itinerário de Sepúlveda sempre que vem a Portugal. O Vereador aproveitou ainda para agradecer à Porto Editora, que lança o livro em Portugal, e a Manuel Valente, o editor do escritor chileno. “Ele é o nosso agente e assumiu a missão de promover a Póvoa de Varzim onde quer que vá.”

Luís Diamantino confessou ter lido o livro de um só fôlego, e viu que Sepúlveda não esqueceu, nesta sua nova obra, os seus amigos portugueses. “Este livro fala muito dos portugueses, aparece sempre um português em qualquer lado, por isso há, de facto, muito de nós aqui”, explicou o edil.  Em A Lâmpada de Aladino Luís Diamantino viu Luis Sepúlveda, as suas vivências, que transparecem pela contestação que marca a narrativa, pelas referências políticas e alusões ao fascismo e claro, pelos vários locais onde decorrem os contos: “É um retalho dos vários locais por onde ele foi passando. São marcas de alma”.

A Manuel Valente, da Porto Editora, não passou despercebida a presença dos muitos amigos. “Estava-me a lembrar do Diana Bar da minha infância. A ideia que eu tinha era que isto era um café enorme. Mas hoje percebi que o espaço até é pequeno, mas porque está cheio de amigos. E isso é que é importante”. O editor mostrou-se duplamente feliz por Luis Sepúlveda o ter acompanhado na sua nova fase profissional, marcada pela mudança de editora, e por terem iniciado este novo ciclo com o regresso de Sepúlveda à ficção e à sua “espantosa capacidade de contar histórias, com uma voz própria que conquistou milhares de leitores”.

E Manuel Valente adiantou ainda que é esperado um regresso em força deste vulto da literatura, com novas obras que estão já a ser preparadas. 

Confessando-se emocionado, Luis Sepúlveda explicou que “estar aqui é muito mais do que vir a uma actividade profissional como escritor, aqui reencontro-me com amigos”, disse, recordando os debates sobre literatura no Auditório Municipal durante as sessões das Correntes d’Escritas e as noites passadas em branco no hotel, onde as horas de descanso eram trocados por conversas com escritores e editores.

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A palavra “regresso” foi uma incontornável durante a sessão de lançamento. E Sepúlveda justificou-se: “Nunca deixei de escrever ficção, o que aconteceu foi que nos últimos anos escrevi crónicas onde gritava contra as coisas com as quais não concordava e a isto dediquei mais de 12 anos”. Este é um regresso que se explica não só por Luis Sepúlveda considerar a ficção “a literatura pura” mas também por respeito aos leitores: “nós temos a sorte de ter alguns leitores que não se limitam a comprar os nosso livros. Eles levam-nos para casa, somos um familiar, entramos nas suas conversas do dia-a-dia e isso cria uma relação de nobreza e compromisso com os leitores”. Passado em locais “que fazem parte da minha geografia sentimental”, A Lâmpada de Aladino é, simultaneamente, uma homenagem de Sepúlveda “a gente que é importante para mim” e também à tradição oral.

O autor explicou ainda que esta é uma obra inspirada em As 1001 noites, um conto trágico sobre uma rapariga que todos os dias tinha que contar uma nova história que agradasse ao sultão, sob pena de ser morta. Aqui, Sepúlveda encontrou uma metáfora sobre a literatura em geral, pois todo o escritor espera sempre “ter a hipótese de contar outra história no dia seguinte”. E a avaliar pela forma atenta como todos escutaram o rol de histórias que Sepúlveda partilhou com a audiência, marcadas pelo humor, e o conto “A Árvore”, um dos 13 de A Lâmpada de Aladino que Manuel Valente leu para a plateia, Sepúlveda terá sempre um sultão ávido por ouvir as suas histórias.