A este propósito, Luís Diamantino lembrou Manuel
Lopes, pelo desejo em tempos manifestado na edição deste estudo e todo o
empenho e dedicação em estabelecer contacto entre Luís Martins e as gentes e tradições poveiras, nomeadamente em
conseguir “a lancha que o acolheu, a casa do nosso amigo Tio Cavalheira”. No
seguimento de O Poveiro de Santos
Graça e Poveirinhos pela graça de Deus
de José de Azevedo, “temos, agora, o poveiro noutras facetas”, concluiu Luís
Diamantino.

Mares Poveiros é o título da obra que passa a integrar a Colecção “Na Linha do
Horizonte, Biblioteca Poveira”, uma profunda investigação em torno de
histórias, ideias e estratégias de pescadores da Póvoa de Varzim que o
antropólogo retrata na sua essência.

O
contacto prolongado e íntimo com a comunidade piscatória poveira, vivendo
durante três anos na casa do conhecido pescador Tio Manuel Cavalheira,
conjugado com intenso trabalho de pesquisa resultaram numa tese de doutoramento
intitulada Inovação e Resistência – um
estudo sobre estratégias nas companhas de pesca, que dá origem ao livro
agora publicado pela Câmara Municipal.

Luís Martins afirmou, na sessão de lançamento, que “o livro foi
escrito em co-autoria porque sempre que escrevia, regressava às pessoas que
colaboraram comigo para confirmar a informação”. Revelou ainda, que “tudo o que
recolho, guardo como um riso interior, guardo sempre uma certa ironia em
relação àquilo que sei”, assumindo que escreve sobre o que as pessoas fazem,
tentando descrevê-lo do melhor modo possível. O autor não tem a pretensão de
explicar, somente procura entender, compreender a realidade que analisa. Assim,
se verifica a humildade deste investigador raro que Álvaro Garrido, director do
Museu Marítimo de Ílhavo, considera que “teima em deixar as suas qualidades
ocultas”. Numa excelente apresentação do autor e da obra, Álvaro Garrido
referiu que “Luís Martins tem qualidades difíceis de definir, é um antropólogo
singular, um incansável descobridor de terrenos, de fontes para entender o
mar”.

O director do Museu Marítimo de Ílhavo reconheceu
em Mares Poveiros uma vantagem
cultural para as comunidades piscatórias visto que, “a nível nacional,
carecemos de narrativas sobre culturas marítimas do ponto de vista analítico, e
este livro sistematiza as pescarias poveiras em profundidade e com rigor
etnográfico”.