A primeira impressão, quando se chega ao pavilhão onde os atletas treinam, e onde decorreu a apresentação, é de algum espanto. É neste espaço, grande, mas sem qualquer luxo, que Vítor Poças, o mestre do recém-criado clube, transforma jovens, semelhantes a tantos outros, nos melhores do mundo. Quando pensamos em campeões mundiais, nas condições necessárias para um atleta se tornar num, pensamos em algo mais que um local que apenas tem para oferecer quatro paredes, um chão e um tecto. Talvez porque o futebol seja o desporto-rei em Portugal e porque nessa modalidade circulam milhões de euros, associamos e confundimos garra e perseverança com ambição por um salário maior, melhores condições de trabalho e mais notoriedade e admiramo-nos quando conhecemos casos como o Centro de Karaté Aguçadourense. Afinal, o que distingue um campeão é a amizade que gera, as regras que cumpre e a ética que não dispensa. E isto não falta no novo clube.

Mais de 50 katarecas subiram ao palco e mostraram alguns dos seus melhores movimentos. Vitalie Certan, um dos melhores atletas do Mundo e que Vítor Poças treina, deslumbrou o público, mesmo os que nada sabem sobre Karaté, com a sua destreza e confiança. Outros atletas simularam cenas de bullying e como os jovens podem desenvencilhar-se destas situações.

No final, o mestre subiu ao palco apenas para expressar que “quem me conhece sabe que não sou um homem de palavras e tudo o que tenho para dizer é que esta é também a minha família e muito agradeço a quem nos ajudou a criar este clube”.

De facto, foi com a ajuda da comunidade que o Centro foi criado. Em 2003, desabrochava a secção de Karaté no Grupo Cultural e Recreativo Aguçadourense. Há sete anos atrás, nem meia dúzia de atletas se interessou em aprender Karaté mas, com perseverança e trabalho, o número de karatecas foi crescendo até ultrapassar a centena. Durante todo esse tempo, foram muitos os momentos marcantes e que orgulham a freguesia, o concelho e, porque não, o país, já que atletas aguçadourenses sagraram-se campeões mundiais, entre eles o próprio mestre, Victor Poças, em 2005. Actualmente, são 67 os atletas que participam em provas. Mas, a competição não é o único objectivo do Karaté na Aguçadoura. Desde o início que o lema é “trabalhar para alcançar o que queremos”. Foi assim quando o Grupo Cultural e Recreativo Aguçadourense atravessava dificuldades financeiras e os atletas precisavam de adquirir um tatami, cujo custo rondava os 2700 euros. Durante dois anos, pais, amigos e atletas fizeram de tudo um pouco para conseguir o valor, fazendo bolos para vender, leilões e rifas. Conseguiram. Mais tarde, foi necessário comprar uma carrinha de nove lugares para transportar os atletas. Com a mesma vontade e espírito de equipa também conseguiram. No sábado, a comunidade voltou a mostrar que está unida. O jantar que sucedeu à apresentação foi confeccionado totalmente por pessoas da freguesia. Um clube que recebe da comunidade mas que também retribui, já que, crianças e jovens da Casa do Regaço fazem parte deste grupo de 120 atletas. Vítor Poças, ciente dos benefícios do Karaté na construção da personalidade e da auto-estima, convidou as crianças e jovens da Casa do Regaço a praticarem a modalidade. As diferenças são notórias, segundo o mestre. São hoje crianças e jovens mais calmos, divertidos e seguros de si.

Sérgio Cardoso, presidente da Junta de Freguesia, explicou que Aguçadoura está extremamente orgulhosa deste projecto e do envolvimento de toda a comunidade no seu desenvolvimento: “Sou testemunha do trabalho árduo, tanto por parte dos dirigentes como por parte dos atletas, seus pais e amigos, para conseguir, ao longo dos últimos anos, construir este projecto que agora nasceu. Por esse motivo, não poderia a Junta de Freguesia deixar de apoiar o novo Centro de Karaté Aguçadourense e todos os seus atletas”.

Aires Pereira, vice-presidente da Câmara Municipal e vereador do Pelouro do Desporto, esteve presente neste jantar de apresentação mostrando o apoio e apreço da autarquia por este novo projecto.