O edil transmitiu, desde logo, que se tratava de um “momento especial na vida da Póvoa de Varzim e singelo face à dimensão do nosso homenageado”.

No seu discurso, Aires Pereira começou por confessar “o meu orgulho por presidir à Câmara Municipal que, finalmente, concretiza uma ideia que há muito estava na mente dos gestores municipais: a Póvoa salda, hoje, uma dívida de reconhecimento e de gratidão àquele que (como salientou, em oportuno estudo, o saudoso Prof. João Francisco Marques) «pelo atuante dinamismo, pela inteligência prática, pela férrea vontade, pelo humanismo solidário, terá sido a personalidade poveira mais marcante da 1ª metade do século XX». De facto, e conhecendo bem a história local, não encontramos ninguém, naquele período tão marcante da nossa história, que, como António Santos Graça, tenha estado empenhado em tantas frentes de luta para que a Póvoa crescesse e se desenvolvesse. Lutou particularmente pelos pescadores, num tempo em que a pesca era atividade económica dominante – e, portanto, a crise da pesca se refletia dramaticamente na crise da economia da cidade, designadamente do seu comércio”.

O Presidente da Câmara transmitiu que “Santos Graça sentia como ninguém estes dois mundos e estas duas atividades económicas tão complementares: tinha origens na colmeia piscatória e era, desde os 21 anos, comerciante.

A sua generosidade e o seu dinamismo, por um lado, e o seu acendrado bairrismo levaram-no à luta pelo associativismo filantrópico e sócio desportivo como formas de intervenção e de elevação social e socioeconómica, de que são exemplo: a colaboração n’A Povoense, na Associação de Socorros Mútuos das Classes Laborais, nos Bombeiros, no Clube Naval (de que foi sócio nº1 e onde a sua ação foi determinante para a construção do monumento ao Cego do Maio), na Beneficente (no lançamento da “sopa dos pobres”), na Santa Casa da Misericórdia, n’A Marítima – Associação da Classe dos Pescadores e Gente do Mar da Póvoa de Varzim, reclamando para os pescadores o exclusivo dos processos de captura intensiva, as chamadas “artes novas” e tantas e tantas outras iniciativas de carácter solidário”.

Aires Pereira referiu-se à presença militante de Santos Graça na imprensa: “aos 20 anos, criou “O Povoense”; pouco depois, foi fundador d’O Comércio da Póvoa, onde desempenhou, ao longo de duas décadas, os cargos de diretor, editor e proprietário e onde escreveu centenas de artigos, versando os grandes temas da atualidade poveira e “O Progresso” (sugestivo nome) foi outro jornal que fundou, no início da década de 1920. Nada do que à Póvoa dizia respeito lhe era indiferente – pelo contrário, tudo quanto interessava ao presente e ao futuro da Póvoa contava com Santos Graça na primeira frente de luta”.

Também na área cultural, Santos Graça foi um “Homem do presente, empenhado na luta por um futuro melhor para a terra que tanto amava, Santos Graça fez também “o registo da memória de uma comunidade marítima multisecular”, nesse livro icónico, que a Câmara se não cansa de reeditar – “O Poveiro”, publicado pela 1ª vez em 1932”. Com   este livro, Santos Graça veio a revelar-se e a ser internacionalmente conhecido como um cientista de incontestável mérito no domínio da etnografia marítima…. Com este livro, e com o outro, que de algum modo o complementa: “A Epopeia dos Humildes”, cuja 1ª edição é de 1952. É obra sua o Museu Etnográfico, fundado em 1937. Já fora obra sua a criação, um ano antes (em 24 de julho de 1936) do Grupo Folclórico Poveiro, que desde então vem apresentando ao mundo as danças e os cantares da nossa terra e a beleza do traje branco inspirado na típica indumentária de trabalho e de festa da classe piscatória. E foi por efeito do eco nacional da obra de Santos Graça, mormente do seu livro O Poveiro, que germinou, em 1939, a ideia, que viria a ser concretizada dois anos depois, de realizar o filme “Ala Arriba”, com atores locais – filme que seria premiado no Festival de Veneza e que teve um efeito exponencial em termos de promoção da imagem marítima e piscatória da Póvoa de Varzim”.

 

O Presidente da Câmara constatou que “a nossa cidade tem vindo, sobretudo desde há um quarto de século, a concretizar um plano de regeneração urbana em que a história e a memória assumem a função identificadora dos cidadãos com o seu território, integrando o passado no presente e humanizando o espaço público, onde as maiores figuras singulares da nossa história (Eça de Queirós, O Cego do Maio, Vasques Calafate, António Nobre, Rocha Peixoto, David Alves, Major Mota, Elísio da Nova), ou os seus principais símbolos coletivos (O Pescador, O Banhista, S. Pedro, A Evocação da Lota – homenagem às mulheres do mar, Às Gentes da Póvoa) onde tudo isto, dizia, nos lembra que a construção da cidade, sendo obra coletiva, teve lideranças, teve referências éticas, teve símbolos, teve, em síntese, valores humanos superiores que orientaram e moldaram a nossa caminhada coletiva.

Era gritante – mormente desde 1982, ano do centenário do nascimento de Santos Graça, assinalado com um oportuno Colóquio Internacional de Etnografia Marítima, que o teve como patrono –, já então e sobretudo desde então, a necessidade de, através da força impressiva de um monumento, prestar a António Santos Graça a expressão maior da nossa homenagem – aquela que se concretiza no espaço público e sob forma de arte pública.

O monumento que hoje inauguramos, e que nasceu da superior capacidade figurativa de Fernando da Silva Gonçalves (o nosso Nando, já de saudosa memória, que também brevemente evocaremos – a 2 de fevereiro, dia do seu nascimento, iremos perpetuar no espaço público aquele que durante muito tempo fez esculturas para toda a gente) –, vem resgatar a memória e lembrar a obra de quem, no seu tempo, conquistou o direito à imortalidade e à veneração dos conterrâneos, hoje e para o futuro”.

Em representação da família, tomaram da palavra os netos de António dos Santos Graça, Vasco Graça Oliveira e Benilde Graça.

Benilde Graça agradeceu, em nome da família, à Câmara Municipal da Póvoa de Varzim e a todos os poveiros esta homenagem, acrescentando que “fazia falta reconhecer deste modo a dimensão excecional de um homem que deu tudo, e foi muito, à sua terra, figura máxima do século XX poveiro”.

Para Benilde Graça, o seu avô “foi, de facto, um homem de exceção, autodidata, multifacetado, que se empenhou no comércio e na indústria, no associativismo desportivo, social e assistencial, no jornalismo, na cultura popular e erudita. Atrás de si, deixou obra feita e bem feita, sendo de salientar, por exemplo, a criação do Museu Etnográfico, do Rancho Poveiro, ainda hoje e cada vez mais, marcas de identidade das gentes da Póvoa do mar, A Filantrópica e talvez, acima de tudo, a obra escrita que produziu”. A este propósito, transmitiu que “O Poveiro é a marca do meu avô, obra essencial para se conhecer a Póvoa de 800 escrita de uma forma simultaneamente simples e erudita que a torna uma monografia exemplar. A Epopeia dos Humildes, também da sua autoria, é a história dos heróis poveiros feitos no mar”.

Benilde Graça destacou ainda outras facetas de António dos Santos Graça: “o meu avô foi também político chegando a deputado e senador em tempos da 1ª República e depois oposicionista sempre, legado que também deixou à família”.

Benilde Graça terminou afirmando que António dos Santos Graça “colocava sempre em primeiro lugar a sua terra” e, por isso, considera a homenagem “justa e merecida porque é um reconhecimento de valor único de um homem que deu à Póvoa o muito que tinha para dar: a inteligência, a determinação e a tenacidade”.

Vasco Graça Oliveira referiu-se ao avô como um “homem bom e capaz que era superiormente inteligente e que fez a Póvoa”.