As mudanças nos movimentos de emigração e imigração que se têm vindo a verificar em anos recentes obrigam a uma reflexão séria num país como Portugal de onde tantos partiram e continuam a partir em busca de uma vida melhor, e que está, por sua vez, a transformar-se num país de acolhimento de movimentos migratórios.
O Padre Rui da Silva Pedro, Director Nacional da Obra Católica Portuguesa de Migrações e que se dedica, há vários anos, ao estudo e acompanhamento, no terreno, desta realidade, esteve ontem no Diana Bar para apresentar uma conferência sobre o tema “Comunidades: Novas Questões Sociais”.
Na sua intervenção, o Padre Rui Pedro abordou, sobretudo, as transformações nos fluxos migratórios de cidadãos portugueses e na atitude dos próprios emigrantes face às suas expectativas quanto à vida no estrangeiro e quanto aos seus objectivos e inserção nos países de acolhimento. “O português que vai hoje para França é diferente do que foi nos anos sessenta”, afirmou o conferencista, acrescentando que “a imagem do emigrante português honrado e trabalhador, disposto a aceitar as mais duras condições de trabalho e sempre guardando a recordação idealizada de um Portugal parado no tempo, ao qual sonha voltar, já não corresponde ao emigrante actual”. Para o conferencista, actualmente é tão fácil partir que o que se passa é que há cada vez mais portugueses a arriscar a sua sorte no estrangeiro, nem que seja por curtos períodos de tempo, já sem o objectivo de ficar um determinado número de anos no país de acolhimento. É, como afirmou, “uma saída silenciosa, à qual se está a dar pouca atenção e para a qual nem há, muitas vezes, estatísticas.” Para o Padre Rui Pedro, os portugueses que assim deixam o seu país, partem numa situação de isolamento e nem em Portugal se sabe quantos saem, nem nos países de acolhimento as comunidades portuguesas tomam conhecimento da sua chegada. Como exemplo, foi apresentado o caso dos que trabalham na apanha sazonal de fruta e que vivem isolados nas quintas para onde vão, sem nunca terem necessidade de aprender a língua local e sem nunca se darem a conhecer à comunidade. As situações de isolamento e de desprotecção associadas a esta realidade e que acabam por afectar os novos emigrantes são, na opinião do conferencista, situações a ter em conta e que não estão, por enquanto, a ser devidamente acompanhadas.
País que não pode entender-se indissociado desta vertente de mobilidade do seu povo, desde épocas remotas, Portugal passou também, muito recentemente, a ser país de acolhimento. Este facto, a saída de cada vez mais portugueses qualificados para o estrangeiro, o que significa que já não é só o mundo rural a produzir emigrantes, as alterações no mercado de trabalho e a existência de agência de recrutamento de emigrantes foram outras das realidades abordadas pelo Padre Rui da Silva Pedro na sua conferência, que se insere no ciclo “Os Portugueses no mundo: desafios e oportunidades no século XXI”, organizado pela associação sem fins lucrativos, Rosa Azul.