O musicólogo referiu-se ao percurso pessoal e artístico do compositor e
pianista francês que apontou como um grande nome da música do século XX
reconhecendo, no entanto, que tal não pareceu evidente durante muito tempo. Na
lógica vanguardista, Ravel parecia não ser suficientemente arrojado pelo seu
enorme rigor de composição, mas é possível ser rigoroso e visionário,
assegurou.

O contexto social em que Ravel nasceu é marcado por uma descrença
generalizada no ideal de progresso e, em tempos de crise, emerge o setor cultural
e artístico.

Filho de pai suíço e mãe basca, a obra do compositor reflete as
influências, por um lado, do pai (ordem, organização e perfeição) e, por outro,
da mãe (explosão criativa) revelando uma faceta inconformista e conformista em
simultâneo.

Aos 14 anos, começou a frequentar o Conservatório
de Paris. Posteriormente, em 1895, passou a estudar só e retornou ao
Conservatório em 1898. Concorreu no Prix
de Rome
, durante cinco anos consecutivos, mas não foi bem-sucedido.

Vive-se um período assente em metáforas e os compositores querem chegar
a manchas de cor sonora, identificando-se
Debussy
como o primeiro grande compositor impressionista, vertente também seguida por
Ravel que, em 1901, compôs Jeux d’eau
.

Entre 1909 e 1912, Ravel escreve um bailado sobre antiguidade clássica
para a Companhia de Bailado Russa e, em 1913,
Trois Poèmes de Stéphane Mallarmé, deixando parecer que está a envergar numa onda
vanguardista.

Pela altura da I Guerra Mundial, compõe obras para
conjunto instrumental com sopros e torna-se um dos primeiros compositores a
adotar a postura do Neoclassicismo.
La Tombeau de Couperin
(
1914) reflete um sentido de humor
mordaz sendo que, por um lado, o compositor assume inspiração lírica e, por
outro, troça com o Romantismo.

Em La Valse (1920),
Ravel faz a representação metafórica das elites românticas. No entanto, esta
procura de alternativa ao Romântico motivou interesse por outras melodias e o
compositor faz uso de um manancial de inspirações: música judaica, músicas
asiáticas, africanas, gregas e ainda americanas. “Paris e a Europa toda ficaram
alvoraçados com estes ritmos”, afirmou Nery, destacando esta fase de Ravel
marcada pelo exotismo e diferença.

O último grande campo de
inspiração do compositor francês foi a nostalgia da infância influenciando
bastante o que ele vai produzir, onde se encontra a perplexidade infantil, o
universo do sonho e a descoberta do mundo próprios desta fase.

Em jeito de conclusão, Rui
Vieira Nery referiu que Ravel foi um compositor muito complexo e difícil de
perceber que se soube emancipar sem precisar de fazer o mesmo que compositores
mais experimentais. Há, em si, uma noção de rutura necessária e uma procura de
vários meios para dar o salto. A descoberta de músicas exóticas e abertura à
música de cabaret, folclore e da infância marcaram o seu percurso e fazem dele
um génio inspirador de paixão. Ficamos magnetizados com a sua música. Há uma
espécie de otimismo, de que há um lado bom da humanidade que vai sobreviver a
todas as crises, assinalou Nery, acrescentando a importância espiritual de
Ravel para além da cultural e artística. Por isso, vale a pena celebrar os 75
anos da sua morte.

José Macedo Vieira, Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim,
congratulou Rui Vieira Nery pela magnífica lição de música e história que deu a
marcar a abertura do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim,
felicitando-o ainda pelos seus êxitos, nomeadamente, como “pai” da candidatura
do fado a património mundial.

A sessão serviu ainda para distinguir o aluno vencedor do concurso que
deu origem à imagem gráfica desta edição do evento. Paulo Correia foi o
criador, estudante do Curso de Artes da Escola Secundária Eça de Queirós, que
recebeu das mãos do Vereador da Educação e Cultura, Luís Diamantino, o prémio
monetário simbólico.

Acompanhe toda a programação do 34º Festival no portal municipal.

Informações:

A conferência e os espetáculos incluídos em
“Manifestações Paralelas” são de entrada livre.

O preço dos bilhetes avulso para jovens até aos 25 anos e
pessoas com mais de 65 é €4,00 e os bilhetes avulso normais custam €6,00.

Se pretender fazer aquisição dos mesmos em Grupo (mínimo de 4
bilhetes) tem o custo de €4,00 (cada) e a Assinatura (série de 9 bilhetes para
os nove espetáculos) de €25,00 com oferta de brochura.

Poderá
adquirir os bilhetes nos seguintes locais: Serviço de Turismo da Póvoa de
Varzim
(desde 22 de Junho, das 09h00 às 19h00, de segunda a sexta-feira;
aos sábados e domingos, das 9h30 às 13h00 e das 14h30 às 18h00); Secretariado
do Festival
(desde 22 de Junho, das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30 (de
segunda a sexta-feira), na receção ou através do telefone 252 614 145 ou fax
252 612 548 | segunda a domingo: 9h00 às 20h30 através do telemóvel 925 012 988
(só para reserva de bilhetes) e ainda Auditório Municipal, Igrejas Matriz,
Lapa e Românica de Rates
, no próprio dia de cada espetáculo, a partir das
20h30.