Tratou-se de mais uma sessão mensal de “À quarta (h)à conversa”.

Recorrendo a vários documentos do Arquivo Municipal e Fundo Local da Biblioteca Municipal, como por exemplo a análise dos artigos da imprensa local no ano de 1917, a historiadora deu conta das dificuldades com que se debatia a população para obter um bem essencial e que era a base de toda a alimentação, o pão.

No ano de 1917, para além de Portugal viver numa instabilidade político-social, o país também entrava a 2 de fevereiro na Primeira Guerra Mundial. A acrescentar a estes fatores havia todo um atraso no setor agrícola, pelo que o nosso país viveria momentos de grave crise e de pobreza evidente, com a população poveira também a sentir na pele a escassez do pão.

Para tentar resolver a escassez de cereais, em especial do milho, que era a maior base para o pão que se fabricava naquela época (o trigo era muito mais caro que o milho), o governo começou a elaborar leis, já em 1915, para que houvesse um maior controlo no cultivo, comercialização e transformação dos cereais. O país vivia muito dependente do chamado cereal colonial, que vinha das colónias africanas e, com a entrada na guerra, tornava-se difícil a chegada da mercadoria sã e salva.

Uma das leis respeitantes à parte da comercialização e distribuição do cereal viria a criar as comissões de subsistência, que tinham por missão ser as únicas “compradoras e reguladoras de cereais” no distrito ou no concelho, conforme o caso. Na Póvoa de Varzim, a Comissão de Subsistência foi criada em 28 de junho de 1917 com autoridade para a “fixação do preço e venda do milho”. Os seus dirigentes eram: Presidente – Francisco Arnaud; Vice-presidente – João Ferreira Barbosa; Secretário – A. Santos Graça. É de registar que, nessa altura, a Póvoa de Varzim tinha 37 azenhas de água e 55 moinhos de vento espalhados pelas 8 freguesias e que, na freguesia da Póvoa de Varzim, existia a única fábrica de pão do concelho. O pão era feito de milho, sendo que apenas na freguesia de Póvoa se fabricava pão de trigo.

A crise e aflição da população mais carenciada pela falta do pão são trazidas até aos dias de hoje pelos ecos na imprensa local. Os artigos semanais dão conta de que há 13 padeiros na Póvoa de Varzim e um em Balasar, mas todos se debatem com o problema de não conseguirem ter poder de compra para adquirir o milho para uma fornada, pois o cereal era muito caro. Uma situação que, em grande parte, se deve ao facto da Câmara Municipal tentar controlar o preço através de medidas protecionistas, como a distribuição de boletins para a atribuição de artigos de primeira necessidade e da venda do seu próprio pão no mercado municipal. Assim, são frequentes os artigos de incentivo ao protesto, como no jornal O Futuro – «lutemos para viver e… não rebentarmos de fome…» – ou de críticas como no jornal O Comércio – «A Câmara está a politizar indecentemente a miséria do povo».

Todos os meses, o Arquivo Municipal da Póvoa de Varzim convida a comunidade a assistir a “À quarta (h)à conversa” e a conhecer melhor o concelho da Póvoa de Varzim ao longo dos tempos.