Mestre em História Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Hélder Guimarães é investigador do CITCEM (Centro de Estudos Transdisciplinares Cultura, Espaço e Memória) da Universidade do Porto e Universidade do Minho e efetuou o estudo «A ‘Aristocracia’ Liberal: os maiores contribuintes da Póvoa de Varzim (1865 a 1891)» – que deu o tema à palestra deste mês no Arquivo. Trata-se de um estudo inserido num projeto do CITCEM, no qual o investigador está integrado.

Após um período conturbado em toda a Europa até 1851, e depois da Convenção do Gramido, dá-se uma época de pacificação, a chamada «pax» liberal, em que se registam avanços dos direitos cívicos. De recordar que até à I Guerra Mundial, o dinheiro é a principal fonte de prestígio, sendo que a terra assume importância no apuramento de riqueza e, consequentemente, na definição da elite económica. Quem mais contribuía com o pagamento dos seus impostos estava numa posição privilegiada para ser elegível para cargos políticos. Era uma época em que os dependentes não tinham acesso ao voto, como mulheres, filhos menores, endividados ou membros do clero. Na Póvoa de Varzim, em 1857, havia 10% de pessoas com direitos cívicos e apenas 5% de cidadãos elegíveis.

Hélder Guimarães procedeu à caraterização da chamada elite económica, baseada nos maiores contribuintes. Foi apurado que a média etária dos 40 maiores contribuintes é de 40 anos, “homens maduros”, que conseguiram prosperar depois dos tempos difíceis do final do séc. XIX. Esta elite incluía 65% de casados, 14% de viúvos e 10% de solteiros, um cenário dentro do esperado por uma sociedade envolvida pela Igreja Católica. Tendo em conta a grande maioria de grandes contribuintes casados, o investigador deduz que “a mulher assumia um papel preponderante para o sucesso do marido, quer com o seu contributo quotidiano, quer através do dote que levava para o casamento”. Estes homens tinham pouca instrução: 87% tinham ensino primário (o rudimentar ler, escrever e contar); 8% aparece sem menção no recenseamento; 3% tem ensino superior e 2% possui ensino secundário/Especial.

As profissões dos maiores contribuintes são exemplificativas das atividades mais lucrativas no concelho: 44% eram lavradores; 30% negociantes e 13% designam-se proprietários. Nesta época, os pescadores não aparecem nunca como maiores contribuintes.

Neste estudo fica patente a ligação da elite política ao poderio económico, pois verifica-se que a elite económica está num patamar privilegiado para ocupar cargos políticos e tornar-se a elite política do concelho. Por um lado, a riqueza e o facto de ser maior contribuinte dava requisito para ser elegível e, por outro lado, os cargos políticos não eram remunerados e só quem tinha capacidade económica podia dispor do seu tempo para este trabalho gratuito. E as atas camarárias dão conta de que nem sempre era fácil para os protagonistas da altura conciliarem a vida pública com as suas vidas particulares e os seus afazeres profissionais. Alguns encaravam esse trabalho como “penoso”. O certo é que outros granjeavam “prestígio pessoal e para os seus negócios” por desempenharem cargos ao serviço da “municipalidade”. Hélder Guimarães identificou cerca de 30 poveiros que assumiram cargos políticos por entre o universo dos 200 maiores contribuintes na Póvoa de Varzim.