“A Lenta Volúpia de Escrever” reuniu Almeida Faria, Francisco José Viegas, Ivo Machado, J.J. Armas Marcelo, José Manuel Saraiva e José Carlos de Vasconcelos (este último no papel de moderador) para mais de uma hora de conversas.

A paixão pela escrita marcou o discurso de J.J. Armas Marcelo, de tal forma que, para ele, falar sobre isso é difícil, pois nada há mais a acrescentar. E tendo como fio condutor para a sua intervenção as memórias dos convívios com outros escritores, Armas Marcelo relembrou episódios vividos por Enrique Vila-Matas, que apesar de manifestar a sua recusa em participar em encontros de escritores e o desejo de não receber mais prémios, continua a escrever, a participar em encontros (esteve nas Correntes d’Escritas de 2007) e a sua escrita ainda lhe vale muitos prémios. Recordou também Mário Vargas Llosa, que considera seu mestre, e para quem a escrita era algo de sagrado. Com ela, Llosa não praticava uma relação de adultério, que só acontecia de vez em quando, como disse Armas Marcelo, antes partilhava uma relação matrimonial.

José Manuel Saraiva optou por desconstruir o tema, dizendo que “a volúpia, para ser volúpia, tem que ser lenta, porque ela é sentimento de satisfação, uma festa dos sentidos”. E sobre a escrita, disse ser “libertadora, não opressiva, é uma acto de amor, não dor, ou se for de dor, é de uma dor boa, nunca agreste”. A sua experiência no ramo do jornalismo levou-o ainda a comparar as duas escritas: se uma pede calma, a escrita jornalística já pede urgência. Nada, no entanto, que o impeça de se afirmar como um “escritor lento, inclusive na escrita jornalística, mesmo que nesta não haja volúpia, mas urgência, duas características, afinal, incompatíveis”.

Foi pela voz de Francisco José Viegas que chegou a discórdia. Começou logo por afirmar que a palavra volúpia o fazia lembrar, de imediato, o pecado, o prazer, a luxúria, logo, algo de proibido e que não poderia ser falado. E assim defendeu que não há volúpia na escrita mas sim no escritor, que se sente necessidade de se mostrar, de conversar. Dizendo que “nem sempre a lentidão é boa conselheira”, e também fazendo uso da sua experiência jornalística, Viegas afirmou nunca ter escrito devagar, pela simples razão de não ter tempo.

Mas logo de seguida Almeida Faria, fazendo valer o seu sangue alentejano, defendeu o tema da mesa. “Nasci no Alentejo e lá temos fama de lentos. Gosto da lentidão, tem as suas vantagens”, disse. O que não gosta, e acabou por confessar, é do processo de publicação e divulgação de livros, uma afirmação feita talvez para responder ao moderador José Carlos de Vasconcelos, que se queixou do “desaparecimento” do escritor, logo no início do debate. Almeida Faria sublinhou, assim, que publica quando tiver vontade de o fazer.

Nesta 3ª mesa de debate participou ainda Ivo Machado, que abriu a sua intervenção com a leitura do poema “Iluminura” do livro Quilómetro Zero, lançado ontem.

O Correntes d’Escritas continua até 16 de Fevereiro com mais mesas de debate, lançamento de livros, entre muitas outras actividades.