O desfile “Da serra para o mar. A utilização da lã no traje de trabalho do pescador poveiro” mostrou uma sequência de figuras históricas de referência: desde guerreiros castrejos, a soldados romanos, bispos e nobres medievais, a elementos da classe popular do século XIX. O objetivo foi proporcionar uma abordagem evolucionista do uso da lã, desde a Antiguidade até à época atual, enquadrando a génese da camisola poveira, bem como as caraterísticas que motivaram a escolha deste modelo e material.

A “Camisola Poveira” é, incontestavelmente, um ícone da Póvoa de Varzim. Referida por autores ilustres, como Ramalho Ortigão nas “Praias de Portugal” (1876), é reproduzida em gravuras e retratada em fotografias desde o século XIX, tornando-se conhecida internacionalmente com o Rancho Poveiro criado, em 1936, por Santos Graça. No Museu Municipal nunca faltaram fotografias que a documentam e muitos manequins as envergam, nos ambientes tradicionais recriados.

Sendo uma peça masculina invulgarmente garrida, adaptou-se perfeitamente ao gosto da cultura Pop e dezenas de artesãs diligentes produziram-nas para venda em lojas locais e para exportação. Contudo, esta mais-valia comercial das camisolas poveiras não suplantou o seu valor etnográfico e patrimonial. Em todas as exposições e em todos os cortejos a podemos encontrar, cada vez mais decorada e carregada de significado bairrista.

Desde as fotografias mais antigas, como as do expressivo herói José da Silva Braga, “o Tio Piroqueiro” – que em todos os retratos conhecidos enverga uma camisola -, às novas experiências dos designers de moda, passando pelo atelier que todas as semanas se realiza no Museu, todas as ações são importantes para incrementar o estudo, divulgação e ensino da técnica de produção e bordado desta invulgar peça.