Pedro Eiras falou sobre O Conquistador de Almeida Faria e, por sua vez Almeida Faria pronunciou-se sobre Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro, de Pedro Eiras.

Pedro Eiras, autor do Prefácio da reedição d’ O Conquistador, referiu que a obra “trata de um certo homem que algumas coincidências com a figura histórica e mítica de D. Sebastião, o rei. De resto, têm 400 anos de distância entre um e outro e é como se 400 anos depois D. Sebastião tivesse regressado, tivesse uma nova vida, voltasse para corrigir qualquer coisa que o primeiro Sebastião não fez ou fez mal”.

Continuou contando que “a partir daí, o livro é de uma urdidura muito subtil porque nunca sabemos se estamos a ler da maneira correta: ou é D. Sebastião ressuscitado ou não é. Vamos ficar na dúvida o tempo todo”.

Pedro Eiras designou como paradoxal – «Quem é afinal este Conquistador?» -, concluindo que é “todos e ninguém ao mesmo tempo”. Referiu que “o romance começa e termina no mesmo lugar. Termina num lugar de auto procura. A última página tem algo de suspensão. Este homem está preso entre narrativas”.

Numa viagem especulativa, aponta para “um novo conquistador que, ainda por cima, vem cumprir aquilo que D. Sebastião não terá cumprido no seu tempo. E, contudo, também pode não ser nada disto e eis o que me agrada tanto neste livro”.

Revelando que gosta “de um livro que me tira o tapete debaixo dos pés”, admitiu que é exatamente o que acontece com este.

Pedro Eiras disse que no Prefácio que escreveu cita Eduardo Lourenço a propósito da psicanálise mítica do povo português e termina transmitindo que “há algo de tentação nesse último momento em que o herói se refugia num lugar solitário, num eremitério. Ele decide recuar e encontrar-se a si mesmo”, denotando “uma ânsia de se refugiar no silêncio”.

Almeida Faria começou por referir-se à obra de Pedro Eiras como um “livro de alto nível universitário” e lamentou não ter tido esta “grande ideia” das cartas que Fernando Pessoa enviou a Mário de Sá-Carneiro entre julho de 1915 e abril de 1916. “É um livro que se lê com a paixão de uma ficção”, constatou referindo tratar-se de “correspondência de altíssimo nível” e acrescentou que “estas cartas consideravam-se perdidas numa mala”.

Pedro Eiras revelou um “fascínio desde sempre” por estas cartas assumindo que “vivo muito mal com a história dos textos perdidos” e, por isso, perdidas as cartas, é necessário escrevê-las.

A este propósito, Almeida Faria transmitiu que “a fantasia cria uma realidade mais real do que o próprio real, muitas vezes. Acredito mais na fantasia do que propriamente na ficção porque é aí que está a verdadeira história da humanidade”.

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