A atividade, que
encerrou as comemorações municipais do Dia Nacional do Mar, contou com a
presença de José Macedo Vieira, Presidente da Câmara Municipal da Póvoa e
Presidente da Rede Nacional de Cultura do Mar, e Henrique Souto,
Vice-Presidente da Rede Nacional de Cultura do Mar e em representação da
Sociedade de Geografia de Lisboa.

No seu introito à conferência,
José Macedo Vieira disse que “
o mar não é apenas um meio
mas um fim em si mesmo. E que, se está disponível para nos levar a outras
paragens, aprecia sobretudo que regressemos, e que nele nos concentremos”.

E sobre a história
do nosso país, inevitavelmente ligada ao mar, o edil referiu “e
Portugal, que pelo mar deu “novos mundos ao mundo”, e assim impulsionou
grandemente o processo de globalização. Sempre que aqui nos sentimos mal, ao
mar nos fizemos, e noutras terras vizinhas do mar nos estabelecemos e fixámos. Até
que dessas terras nos afastámos e, no regresso, ao mar virámos costas”.

“E assim vivemos anos a fio, iludindo-nos em miragens que depressa se
desvaneceram e nos conduziram ao atual sufoco”, constatou o Presidente,
acrescentando que “preferimos ser periféricos numa Europa fechada em si mesma a
ser centrais numa Europa que assuma a sua fachada atlântica como vetor
geoestratégico para a competitividade à escala global”.

Neste sentido, advertiu “o mar é, hoje, um desígnio nacional
irrenunciável, imperioso, urgente. Mesmo que a Europa queira continuar distante
do seu velho e fundador eixo euro-atlântico, Portugal deve regressar, e em
força, ao seu mar – o país, no seu todo: o governo central, as autarquias, as empresas,
apostados em criar riqueza e postos de trabalho para os portugueses. É que, se
Portugal detém hoje, graças aos seus territórios atlânticos, uma grande
plataforma continental, estamos em vias de ultrapassar, neste domínio, a
Noruega, o atual gigante marítimo europeu. O país pode, em breve, ter no mar
uma extensão de território equivalente à da India, com tudo o que isso potencia
em domínios tão vastos como a investigação científica, o desenvolvimento
tecnológico, a geologia, a energia, o turismo, o desporto, as pescas. O futuro
não é outra coisa senão o passado dinamicamente atualizado”.

Evidenciada a importância do mar a nível nacional, José Macedo Vieira
definiu-o também como “desígnio municipal”, salientando que “tive a possibilidade
de promover a reconciliação que tardava, devolvendo à população o espaço da
enseada, outrora um agressivo depósito de lixos e mercadorias, e recriando
assim a velha relação de proximidade, que se perdera”.

Se a nossa Póvoa, algum dia, para nosso mal, deixasse de ser terra de
pescadores, nunca deixaria de ser terra de mar – que essa é a boa fatalidade genética
a que estamos solidamente associados, afirmou Macedo Vieira, advertindo que “teremos
de ser terra de mar, mas de um mar fecundo – local de pesca, local de recreio,
local gerador de energia, local de estudo e de tudo aquilo a que o estudo
conduza. Teremos de ser terra de mar, e do que dele vem. Teremos de acentuar a
vertente marítima da nossa gastronomia urbana. A gastronomia com origem no mar
tem de voltar ao ADN da nossa vivência urbana. Teremos de ser terra de mar e
das novas atividades a ele associadas: a náutica de recreio, a náutica
competitiva, a vela, o remo, o surf, a natação em águas livres. Teremos de
desenvolver uma cultura de mar, não apenas pela revivência histórica da faina
piscatória dos nossos antepassados, e dos mitos a ela associados, e das marcas
que deixou na nossa memória coletiva e particularmente na nossa colmeia
piscatória, mas também na vertente do turismo cultural com génese no nosso
património marítimo, de que é expressão maior a Lancha Poveira do Alto, cuja
presença no mar deve ser mais assídua. A próxima fase de desenvolvimento do
município deverá ser orientada por este projeto de consolidação da componente
marítima da nossa identidade”.

O Comandante Luís Adriano Cesariny Calafate começou por reconhecer que
“é animador voltarmos a ouvir falar do mar sem os complexos do fim do Império
mas sim numa perspetiva de futuro com inteligência e vontade de aproveitar de
forma sustentada aquilo que generosamente nos oferece”.

Luís Calafate

Luís Adriano Cesariny Calafate

O Capitão da Marinha Mercante informou que para potenciação económica e
proteção desta enorme riqueza que é a zona exclusiva de Portugal, 18 vezes
maior que o seu território terrestre, a maior da União Europeia, uma das
maiores do mundo (11ª), e havendo ainda a hipótese de ser aprovada pelas Nações
Unidas a proposta de extensão da plataforma continental que aumentará a área
marítima sob soberania ou jurisdição portuguesa para mais do dobro da atual,
isto é, 42 vezes no total, ficando assim unido pelo espaço marítimo o
continente às regiões autónomas contrariando a nossa ideia de pequenez,
parece-me indispensável que o país assuma um papel de liderança neste setor,
rentabilizando esta vantagem.

O Comandante considera que é necessário assumir, numa perspetiva
transatlântica, que somos um país central e não periférica tirando partido
dessa posição estratégica de cruzamento de rotas intercontinentais e criar uma
política portuária que atraia os navios aos nossos portos. Aproveitando também
o crescimento das viagens de cruzeiro e a sua passagem pelos portos
portugueses, criar empresas turístico-marítimas com programas de visitas em
terra para que os passageiros conheçam o nosso país e incrementar as riquezas
do mar como via de ligação dos continentes com transportes marítimos.

Luís Adriano Cesariny Calafate enumerou os diversos aproveitamentos e
benefícios que o mar nos fornece nos mais variados setores e áreas de atividade
referindo-se também ao sistema de produção de energia elétrica a partir das
ondas do mar instalado ao largo de Aguçadoura, na Póvoa de Varzim.

Para o Capitão da Marinha Mercante, a entrada na EU foi um passo
importante para quebrar com o nosso isolamento político mas nunca devíamos ter
voltado as costas ao nosso património marítimo cuja sua presença física se nos
mantem fiel. A grande fronteira com o mar não é uma fatalidade, é uma
mais-valia, advertiu.

No sentido de assinalar as potencialidades do mar, afirmou que “tendo
nós um território com um grande litoral e fronteira terrestre apenas com um
país, o governo tem obrigação de assegurar a entrada de bens de consumo básico
por via marítima, pois, neste momento, não temos navios de comércio
suficientes”. Será necessário também investir na marinha mercante; criar
condições de trabalho e de habitabilidade a bordo que atraia os jovens e
mantenha os mais antigos para que haja no setor estabilidade e
profissionalismo; integrar as várias tutelas ligadas ao setor; descentralizar,
em todos os campos, apoios aos marítimos; é preciso investir nos recursos
humanos; promover a investigação para melhorar a gestão do setor, entre muitos
outros explanados pelo conferencista.

Os portugueses têm uma ligação afetiva ao mar mas esquecem o seu
potencial e peso na economia do país, advertiu, acrescentando que dar novo
impulso ao setor exige uma visão estratégica e conjugação de esforços que vai
muito além da legislação. A tutela deverá ter vontade política para concretizar
o aproveitamento das riquezas do mar. É um empreendimento que exige um grande
esforço de todos nós. O mar não é um obstáculo mas sim um elemento de ligação e
aproximação dos povos e culturas com enorme repercussão na economia.

Na esperança de ter contribuído para uma maior ligação dos portugueses
ao mar e para o reconhecimento da importância que o mar pode ter para a
recuperação económica do país, Luís Adriano Cesariny Calafate conclui a sua
intervenção recorrendo ao título de uma obra do seu avô Caetano Vasques
Calafate “Verbo, vigor e ação”: “faço votos para que o verbo com vigor lusitano
se transforme em ação neste reencontro com o mar”.

A marcar o Dia
Nacional do Mar, houve sessões educativas nas Escolas EB 2/3 do concelho
“O Mar é Património”, por Manuel Costa, sensibilizando as crianças e
jovens para a salvaguarda da memória das embarcações tradicionais poveiras, do
património naval, abordando as artes da construção naval e da navegação. Na
Escola EB 2/3 Dr. Flávio Gonçalves, houve uma Hora do Conto, na qual a obra A
Menina do Mar
de Sophia de Mello Breyner Andresen foi narrada aos alunos. Os
utentes da Beneficente e população em geral visionaram o filme
“Ala-Arriba” de Leitão de Barros, na Biblioteca Municipal.