Póvoa de Varzim, 08.08.2008 - Artesar, cavaliada, santeiro. Ou morrer, estrada, domingo. As primeiras, palavras que fazem parte da linguagem popular poveira, as segundas o seu significado. Estes termos e outros, assim como adágios, canções infantis, rezas e orações, lendas, romanceiro e cancioneiro, próprios da cultura poveira, estão perpetuados em Linguagem e Cancioneiro Popular Poveiro, obra da autoria de Júlio António Borges, lançada ontem no Diana Bar, no âmbito da Feira do Livro.
A obra é o nº 20 da colecção “Na Linha do Horizonte – Biblioteca Poveira” e apresenta-se como a segunda parte do um livro lançado pelo mesmo autor em 2003, Paisagem Poveira, o nº 3 da mesma colecção, completando, assim, um estudo etnográfico do concelho da Póvoa de Varzim que, acima de tudo, preserva a memória do que são os hábitos, os rituais e as vivências do povo.
“Temos uma comunidade que continua a viver as suas tradições com grande intensidade, e o S. Pedro é exemplo disso. Significa que vivemos num concelho familiar e isto não devemos perder” afirmou Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, presente no lançamento da obra. “Paisagem Poveira é um projecto muito interessante, que nos dá uma perspectiva do que é a Póvoa. Já este livro é um projecto diferente, que me agrada sobretudo pelos aspectos ligados à linguagem” esclareceu o Vereador, gracejando sobre termos que do ponto de vista fonético, sintáctico ou gramatical são usados de forma errada mas que constituem a genuína forma de falar de uma comunidade. “Se não temos passado, não temos presente e não temos futuro certamente”, sublinhando assim o importante valor patrimonial que esta obra representa, na preservação dos costumes e tradições da Póvoa. “São 500 páginas de muito trabalho, e por isso agradeço a recolha que fez, pois esta é uma lembrança para os nossos filhos e netos”, rematou o Vereador, dirigindo-se ao autor, professor aposentado natural de Vila Real, cujo destino se cruzou com a Póvoa, mais concretamente com Aguçadoura, freguesia onde foi colocado para leccionar em 1967.
Persistente e paciente foram qualidades encontradas no autor exaltadas por Luís Diamantino. A estes, Sérgio Cardoso, Presidente da Junta de Freguesia de Aguçadoura acrescentou “metódico, organizado e cativante”, agradecendo, na sua intervenção, a dedicação que o autor tem para com aquela freguesia, sobre a qual lançou, em 1990, uma monografia. “As obras falam por si e tenho a certeza que Júlio António Borges vai ficar na História da Póvoa de Varzim”.
No meio de muitos amigos, Júlio António Borges falou sobre a sua obra. “Nada há de mais gratificante do que um sonho concretizado, mesmo quando demora quase vinte anos a materializar”, uma clara referência ao tempo dedicado à pesquisa, recolha e tratamento da informação. “O modo de falar de um povo regista características próprias, com nuances regionais na área da fonética, morfologia e sintaxe”, explicou, percorrendo as várias vertentes que compõem o livro: as “Formas de Dizer”, os Adágios, as “Fórmulas de Tratamento”, a “Linguagem Infantil”, o glossário, a “Linguagem dos Erguinas, utilizadas pelos pedreiros de Beiriz nos séculos XVIII e XIX e as Siglas Poveiras”. Rezas, Orações, Lendas são outros dos elementos recolhidos para o livro, a que se junta o Cancioneiro Popular Poveiro, que de tão extenso e rico que é “seria impossível abarcá-lo num único livro”. “Entendo que a melhor forma de perpetuar a memória desse vasto património cultural, seria publicar as respectivas pautas musicais, num total de cerca de 160”. Júlio António Borges expressou ainda um desejo: “espero que cada poveiro, ao folhear este livro, descubra, nos meandros da sua memória, outras canções que não foram publicadas. Será, talvez, um bom exercício para evocar episódios da sua juventude”.
O lançamento deste livro vem juntar-se às muitas outras actividades desenvolvidas no âmbito da Feira do Livro que, uma semana após a sua abertura, continua a proporcionar momentos de lazer com o seu programa de eventos paralelos.
Assim é este fim-de-semana que se aproxima, sendo que no sábado, dia 9, às 21h30, o palco do Passeio Alegre recebe o Festival Internacional do Emigrante, um evento de folclore organizado há já vários anos pela Associação Cultural e Recreativa da Matriz, através do Rancho Tricanas do Cidral. Participam este ano o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Santo António das Areias (Marvão), o Rancho Folclórico Dançar é Viver (Brandoa, Amadora), o Rancho Folclórico da Casa de Viseu (Rio de Janeiro, Brasil) e ainda o Rancho Tricanas do Cidral. Em conjunto, estes quatros ranchos vão proporcionar um espectáculo de quase duas horas, onde é honrado o folclore nacional e são dadas as boas-vindas a todos os emigrantes que, por alturas do Verão, voltam à sua pátria para acalmar as saudades.
Durante todo o fim-de-semana, isto é, nos dias 9 e 10, e ainda na segunda-feira, dia 11, os “Jotinhas” marcam presença no recinto da Feira do Livro, no Largo do Passeio Alegre, sempre às 18h00, para desenvolver acções de animação de rua que incluem mimos e palhaços que, além de distribuírem risos e gargalhadas, vão ainda pintar a cara dos mais novos e oferecer balões com divertidas formas.
A Feira do Livro é organizada pelo Pelouro da Cultura da Câmara Municipal e decorre até 17 de Agosto. Abre todos os dias 16h00, encerrando de domingo a quinta às 24h00 e às sextas e sábados à 1h00.
No portal municipal pode consultar o programa da Feira do Livro 2008.