A propósito de Derivação, escreve o compositor, Gonçalo Gato: “É uma peça para piano onde quis explorar a derivação (passo o pleonasmo) como elemento fundamental da construção do discurso musical. O material inicial é, por assim dizer, despojado, quase neutro, mas é na sua variação que reside o seu interesse. Penso que o compor tem muito que ver com a exploração das potencialidades de um determinado material musical, seja ele qual for. Assim, a escolha do momento para instilar novo material musical surge sempre após o esgotar de potencialidades de variação de material anterior. Esse esgotamento cria a tensão necessária para a renovação do discurso. Por esta razão conceptual estar no núcleo da composição, esta peça é também um manifesto de liberdade: liberdade para não haver secções pré-definidas, liberdade para não haver esquemas composicionais apertados, liberdade para fazer uso da intuição no compor.”

Para Ana Seara, que compôs Poema, Mensagem: “Uma mensagem para todos os professores com quem tive oportunidade de trabalhar, uma mensagem para tudo aquilo que aprendi, uma mensagem por tudo aquilo que farei a partir de agora. O poema da independência, da responsabilidade e do futuro. Em Poema, Mensagem utilizei harmonias de várias peças de Grisey, como Partiels e Talea. Esta peça é-lhe dedicada, neste ano de 2008 em que se celebram os 10 anos da sua morte. Tal como um poema é constituída por diversas partes que “rimam” mas também adquirem identidades próprias e, por isso, se distinguem e coabitam em perfeita harmonia, esta peça alterna a figura com o continuum, o rápido fluir dos acontecimentos e o estatismo.”

Às 21h45, a Camerata Senza Misura interpreta as duas obras, que serão depois avaliadas, durante o intervalo, pelo júri, pelo público e pelos intérpretes.

Após a interpretação de “Derivação” e de “Poema, Mensagem”, a Camerata Senza Misura, composta por Pedro Ribeiro (oboé), Nuno Pinto (clarinete), Pedro Silva (fagote), Bernardo Silva (trompa), Evandra de Brito Gonçalves ( violino), Luís Norberto Silva (viola), Filipe Quaresma (violoncelo), António Augusto Aguiar (contrabaixo) e Elsa Marques da Silva (piano), interpreta também  “Granito”( Duo para Violoncelo e Contrabaixo), de Carlos Azevedo (1964) e Elliot Carter (1908), Quinteto para piano e sopros (oboé, clarinete, fagote e trompa)

  1. Allegro

  2. Tranquillo – Stesso tempo –

  3. Tempo primo

A Camerata Senza Misura é um projecto ambicioso, que tem como objectivo reunir uma nova geração de músicos portugueses com vista à realização de programas de música de câmara, e que teve o seu início em Novembro de 2002, com a participação no ciclo Clarinete À Volta do Côa.

Com uma formação ecléctica – inclui sopros, cordas e piano – este grupo pode executar obras com as mais diversas combinações o que permite, ao mesmo tempo, ter abrangência e flexibilidade para executar repertório de vários períodos da história da música. A divulgação de música portuguesa contemporânea tornou-se um aspecto de muita importância para o grupo, empenhando-se por isso na encomenda e estreia de obras de compositores portugueses.

Após o intervalo, é interpretada mais uma peça de Carlos Azevedo (1964), “Poema” (noneto), seguindo-se o anúncio pelo júri do vencedor na modalidade “Música de Câmara” deste 3º Concurso Internacional de Composição.