"Uma das figuras cimeiras da cultura portuguesa", nas palavras do moderador José Carlos de Vasconcelos, Helder Macedo encheu o Cine-Teatro Garrett para a Conferência de Abertura do 26.º Correntes d'Escritas, esta quarta-feira.
O poeta, romancista, ensaísta, crítico e investigador português abraçou um tema que lhe é tão familiar: “Luís de Camões: conhecer não ter conhecimento”, celebrando a “perspetiva moderna, do nosso tempo, de um tempo que ainda venha a ser nosso” da obra épica de Camões.
Da poesia lírica para a poesia épica, “os contrários coexistem” nas suas publicações, sendo os poemas camonianos “construídos sobre aparentes contradições (armas e letras, Vénus e Baco, a viagem factual e a utópica ilha do amor)” e “oposições complementares”.
Numa conversa que visou “estabelecer uma sequência plausível da sua obra lírica com o que, de alguma forma, se sabe da vida de Camões”, Helder Macedo sublinhou que os Lusíadas, apesar de terem sido “compostos ao longo de muitos anos, em parcelas posteriormente coordenadas, e não necessariamente na sequência que conhecemos”, permitem vislumbrar uma “gradual transição da alegria juvenil para a dúvida e, posteriormente, da dúvida para o desespero”.
Através da “aparente simplicidade de alguns dos seus poemas iniciais” e da “complexidade das suas obras posteriores”, o conferencista vislumbra “a compreensão do feminino por Camões” e da “relações entre os sexos” que “pode ser extrapolada para uma relação entre povos, colonizadores e colonizados e opressores e oprimidos”.
“No arrojado entendimento de Camões” presume-se uma “conceção da modernidade do feminino e masculino”, que, explicou Helder Macedo, funcionam como “entidades autónomas”. A sua obra espelha um “entendimento da situação social das mulheres”, dando “respostas femininas” ou, pelo menos, as respostas “que Camões pretendia que fossem femininas para os redutores estereótipos das práticas amorosas das mulheres”.
À Conferência de Abertura, seguir-se-á a primeira de 11 Mesas a realizar no âmbito do Correntes d’Escritas. Serão quadros mundialmente reconhecidos, como “Guernica” de Picasso ou “A Guerra” de Paula Rego, a dar mote a estas conversas, lançando aos autores e autoras o repto: que se perca pelo quadro, sem limites que não sejam os de e do tempo.
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