O escritor brasileiro é um contador de histórias por excelência e o público rejubilou com a sua presença, soltando gargalhadas e, até, algumas lágrimas com algumas partilhas da sua vida.

Loyola Brandão é um defensor acérrimo da crónica e hoje esse ponto de vista ficou bem claro: “como as pessoas se vestiam, como falavam, o que comiam e como se divertiam no século passado no Rio de Janeiro só é conhecido através das crónicas de Machado de Assis”. E porque a crónica precisa de defesa? Segundo o escritor brasileiro é um estilo desprezado pela academia. Ainda sobre este tema, Loyola Brandão explicou que a crónica é a composição da vida e contou que, na infância, a sua professora pedia, uma vez por mês, que os alunos escrevessem sobre o bairro onde cada um morava: os cães, os gatos e os vizinhos.

Para Ignácio, “o imaginário é o que nos torna únicos e, se existisse absurdo, livros como A Metamorfose ou Cem anos de solidão nunca teriam sido escritos”.

Quanto à inspiração para escrever crónicas, o autor brasileiro lembrou uma frase do seu conterrâneo, Luís Fernando Veríssimo: “a inspiração é o prazo de entrega”. Um pouco mais a sério – ou talvez não – Loyola Brandão disse estar atento às pessoas: “converso e ouço muito e vou transformando em literatura as suas doideiras”.

Em Araraquara, sua terra natal, todos o chamaram de “veado, gay, maricas” quando vestiu uma camisa vermelha. Esta passagem da sua vida serviu para exemplificar que os Anos 50 não foram Anos Dourados, como são apelidados. Pelo menos para Ignácio, que afirmou que quem gostou dos Anos 50 é porque nunca viveu em Araraquara, uma terra pequena e sem futuro: “não quero voltar a ter 20 anos nunca mais”. Por este e outros motivos, todos os membros do seu grupo de amigos deixou a cidade, incluindo ele próprio. A Araraquara só regressava em dias de festa. Num desses regressos, o escritor soube que o único dos seus amigos que tinha permanecido toda a vida na terra natal se tinha tentado suicidar. O amigo atirou-se para a linha do comboio que todos os dias partia para São Paulo, a cidade que representava uma outra vida. O suicídio não teve sucesso. O corpo do amigo ficou intacto por fora mas danificado por dentro: “não falava, não reagia. Mas suspeitava-se que, de facto, ele não tinha enlouquecido. Apenas se refugiava na ideia de loucura”. Para Ignácio de Loyola Brandão, todos somos um pouco loucos e essa loucura é necessária para a literatura.

Entre tantas histórias contadas durante muito mais tempo do que aquele que a organização do Correntes d’Escritas tinha estipulado para esta conversa, uma das mensagens mais fortes transmitidas pelo escritor brasileiro é que os fracassos não são importantes. O que importa é tentar e dizer como Ignácio: “valeu a pena”.