Noémia Costa foi a convidada desta sessão, já que elaborou, para a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, um trabalho de investigação sobre o jogo, fazendo-se valer de inúmeras referências bibliográficas deixadas por vários etnógrafos, como o poveiro Santos Graças, falecido em 1956, e testemunhos de figuras poveiras, como Jorge Barbosa ou o Padre Amorim, de Beiriz, também entretanto desaparecidos. 

São muitas as referências históricas e literárias ao Jogo da Péla, que pareceu ter praticantes em vários países, embora com alguma nuances. Se em Inglaterra era um jogo praticado por senhoras nos vastos jardins, em França, no séc. XIII, era um jogo de elites, praticado por membros do Clero e fidalgos, em salões próprios.

Na Póvoa de Varzim era um jogo praticado ciclicamente, ou seja, era um jogo típico da Quadra Pascal. Santos Graça indicou mesmo o período entre as Festas da Ressurreição e da Ascensão como aquele em que se jogava, com natural intensidade na segunda-feira de Páscoa, ou do Anjo, em que os poveiros rumavam em direcção aos montes de Argivai para um dia de convívio. Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, assistiu à sessão e recordou que, nos seus tempos de criança, o Jogo da Péla era quase que um acontecimento comunitário, em que toda a vizinhança se reunia na rua, após a passagem do Compasso, para jogar. O número de jogadores de cada equipa era, por isso, elevado, assim como a tendência para ludibriar a contagem de pontos. “Quanto maior era a confusão, melhor”, explicou.

No início, o Jogo da Péla era exclusivo da classe piscatória, sendo que os pescadores aceitavam com relutância a participação de “terrineiros”. Mas aos poucos e poucos este jogo, que pode ser considerado um precursor do ténis, foi sendo praticado por diversos sectores da sociedade.

Duas equipas (sendo que o número de membros de cada uma era sempre variável), uma bola feita de meias de senhoras e uma cachola (banco ou cadeira que servia de ponto de mira), eram o necessário para um Jogo de Péla. As regras eram complicadas, mas a confusão instalava-se porque cada jogo começava sempre com a “negociação” sobre quem era a equipa de cima, a de baixo, os pontos… Em muitos casos, os próprios jogadores faziam apostas a dinheiro, repartido depois pela equipa vencedora. Para dar azar às equipas adversárias, as mulheres passavam uma perna sob a cachola enquanto diziam uma ladainha.

Fosse uma rua, um campo ou um monte, qualquer sítio era bom para jogar o Jogo da Péla, infelizmente uma tradição que se tende a esbater na Póvoa de Varzim.