Póvoa de Varzim, 16.09.2013 - Na passada sexta-feira, 13 de setembro, Luís Milhazes apresentou o seu mais recente livro Cunhal, Brejnev e o 25 de Abril, no Diana Bar.
Consciente de que o seu livro não iria agradar a toda a gente, o jornalista revelou que pretende dar o seu “pequeno contributo para a história recente de Portugal”, explicando que a publicação inclui documentação soviética, depoimentos de protagonistas e testemunhos sobre as relações entre o PCP e Moscovo e o papel da URSS durante o processo revolucionário português.
“Os soviéticos compreendiam que, se os comunistas tentassem tomar o poder em Portugal, a NATO e os Estados Unidos iriam reagir e Portugal iria mergulhar numa guerra civil bastante sangrenta”, acrescenta Milhazes, sublinhando que o então secretário-geral do Partido Comunista Português, Álvaro Cunhal (1913-2005), não dispunha de independência política em relação ao Kremlin, o que “impediu” qualquer ação dos comunistas portugueses no 25 de Novembro de 1975.
“Eu penso que publico elementos suficientes para provar que Álvaro Cunhal não era um político autónomo. Antes de tomar uma decisão importante, Cunhal ‘aconselhava-se’. Ou seja, pedia autorização aos soviéticos. Há uma declaração de um ex-agente do KGB que falou com Cunhal depois de 1975 em que Cunhal reconhece essa ideia – de que o PCP não era autónomo”, explicou o correspondente da Lusa em Moscovo.
“Há efetivamente documentos que permitem ver que o 25 de Novembro terminou como terminou, o PCP não recorre às armas porque foi terminantemente proibido pela União Soviética”, explica, sublinhando a dependência política do então secretário-geral do partido em relação ao Kremlin.
Sobre esta parte do livro dedicada ao estudo da participação dos políticos portugueses no período revolucionário, se atuavam ou eram peões nas mãos das grandes potências, José Milhazes concluiu que “eram mais peões”.
O historiador e jornalista poveiro residente em Moscovo desde os anos 1970 refere, igualmente, documentação do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) sobre o financiamento de Moscovo aos partidos comunistas em vários países.
Além da questão do financiamento, o autor do livro pretende também apresentar provas de que parte do arquivo da PIDE-DGS foi levado para Moscovo, “numa operação conjunta” dos serviços secretos soviéticos e do Partido Comunista Português.
José Milhazes revelou que o acesso restrito aos arquivos foi o grande obstáculo deste trabalho, limitando-se a escrever sobre aquilo que era possível documentar e não sobre tudo o que gostaria.