Johann Sebastian Bach adquiriu na juventude uma sólida cultura humanística, em simultâneo com o domínio de instrumentos musicais e da arte da composição. Completou a sua educação com o estudo aprofundado de compositores contemporâneos alemães, franceses e italianos (neste último caso, os concertos de Antonio Vivaldi foram abundantemente copiados e transcritos pelo jovem Bach). O concerto de amanhã irá reunir obras destes dois grandes músicos. A começar pelas de Bach: os originais dos BWV 1052 e BWV 1056 foram escritos para violino e orquestra. Gli Incogniti propõem o primeiro na versão para cravo: dois movimentos rápidos vigorosos enquadrados por um belo Adagio; já o BWV 1056 será apresentado numa versão para violino, muito possivelmente a versão original (alguns musicólogos inclinam-se mais para a hipótese de que essa versão será antes para oboé e orquestra).

Na colectânea de 12 concertos “Il Cimento dell’armonia e dell’invenzione” op. 8, Antonio Vivaldi incluiu os quatro que formam “As Quatro Estações”, ostentando cada um deles uma estrutura vivo-lento-vivo, de uma criatividade e beleza ilimitadas. O título deste op. 8 evoca uma confrontação entre a harmonia (razão) e a invenção (a imaginação).

Fundado por Amandine Beyer em 2006, o agrupamento Gli Incogniti deve o seu nome à “L´Accademia degli Incogniti” de Veneza. A partir desse nome, tentou igualmente herdar o seu espírito: um gosto pelo desconhecido em todas as formas, a experimentação das sonoridades, a procura de novo repertório, o redescobrimento dos “clássicos”.

No seio dos Incogniti, encontram-se músicos que se reencontram em muitos outros projectos musicais ao longo dos anos, que sentem um grande prazer em tocar juntos e cuja ambição, nesta nova formação, é de transmitir uma visão empenhada e coerente das obras que interpretam de acordo com a sua sensibilidade e gosto.

A par das numerosas críticas com que foi agraciada a sua primeira gravação com a integral dos concertos para violino de Johann Sebastian Bach, para a Zig-Zag Territoires em Abril de 2008, (“Choc” de “Le Monde de la Musique”, “10” de Répertoire, “CD der Monat” da revista alemã “Toccata”), o agrupamento tocou durante esse ano nas mais prestigiadas salas de concerto, entre as quais L´Opéra de Monte Carlo ou o Théâtre de la Ville (Paris), assim como em grandes festivais como o Festival de Sablé, Via Stellae (Espanha), o Festival de Haut-Jura, ou o Bach Biennale (Weimar). A publicação do seu segundo CD, consagrado às “Quatro Estações” (assim como concertos desconhecidos) de Vivaldi, foi bastante elogiada pela crítica e foi citada como “l´enregistrement de référence de cette oeuvre”.

Amandine Beyer
Amandine Beyer

Amandine Beyer começou a estudar música com quatro anos de idade na região de Aix-en-Provence. Mais tarde estudou violino na classe da Prof. Aurélia Spadaro. Com quinze anos foi admitida no Conservatoíre National Supérieur de Musique de Paris onde foi agraciada com um primeiro prémio em 1994. Ao mesmo tempo, escreveu uma tese de mestrado sobre Karheinz Stockhausen, e obteve em 1996 uma “agrégation” em musicologia.

Mudou-se para Basileia para continuar os seus estudos superiores com Chiara Banchini na Schola Cantorum Basiliensis, onde teve a fantástica oportunidade de ter aulas com outros professores, como Cristophe Coin, Jesper Christensen, Jean Goverts, Nicolau de Figueiredo, Raphael Oleg e Hopkinson Smith.

Em paralelo com estudos dos estilos renascentista e barroco, e a história da sua interpretação, aceitou o desafio de tocar violino antigo num dos mais famosos agrupamentos medievais, os Mala Punica (dirigidos por Pedro Memelsdorff), com os quais gravou CD´s para a Erato e Harmonia Mundi.

Começou então a sua carreira internacional, dando concertos como solista de muitas orquestras (Ensemble 415, Le Concert Français, L´Accademia Montis Regalis), em conjunto com músicos como Giuliano Carmignola, Chiara Banchini, Pierre Hantaï, e como concertino de grupos como Al Ayre Español (Eduardo Lopez Banzo), La Fenice (Jean Tubéry), Le Concert Français (Pierre Hantaï). Como resultado, foi convidada para festivais e salas de concerto como o Cloister (Nova Iorque), Théâtre du Châtelet, Maison de la Radio e Théâtre de la Ville (Paris), o Gewandthaus (Leipzig), o Festival d´Ambronay, Il Teatro Regio (Turim), o Konzerthaus (Viena) o Auditório Nacional e o Teatro Real (Madrid), o Palau de la Musica (Valência), o Coliseu (Porto), a “Folle Journée” de Nantes e Bilbau, etc.

A par da sua carreira de solista, manifesta também um interesse especial em ensinar: supervisiona os cursos de orquestra da Accademia Montis Regalis, em Itália e, desde 2004, lecciona em Barbaste, França e no Departamento de Música Antiga da ESMAE, no Porto, Portugal.