José Carlos Vasconcelos foi o condutor desta sessão Correntes à Conversa.

A frase é de Sophia de Mello Breyner e é o título de um artigo de opinião publicado em 1975 no Semanário Expresso.

O fundador do Grupo Impresa leu as partes do artigo da escritora – que diz ter sido uma mulher muito corajosa – que considera mais acutilantes. Esta foi uma delas: quando a Arte não é livre o povo também não é livre. Onde o artista começa a não ser livre o povo começa a ser colonizado. A falta de liberdade cultural é um sintoma e significa sempre opressão para um povo inteiro.

A mestria de Sophia de Mello Breyner como poeta não a fez renunciar ao seu papel enquanto cidadã e este artigo é prova irrefutável disso, “é um ato de intervenção política, um grito de alerta”.

Pinto Balsemão situou o artigo no tempo: Jorge Correia Jesuíno era Ministro da Comunicação Social e proliferavam as campanhas de dinamização social. E neste artigo Sophia é perentória: “as campanhas de dinamização são mais políticas do que culturais. Fazem um doutrinamento político que deve ser feito pelos partidos. Pois não há doutrinamento apartidário”.

O patrão da SIC deixou, então, uma questão que gostaria que uma próxima edição das Correntes d’escritas abordasse: a produção cultural é maior nas ditaduras?

Como prova da diversidade de opiniões publicada no Expresso, Francisco Pinto Balsemão contou que, na mesma página onde foi publicado este artigo, foi também publicada a opinião de Eduardo Prado Coelho, absolutamente diferente: “opiniões divergentes para o leitor decida a que lhe parece mais acertada”, disse.

Do artigo de 1975 viajamos até à atualidade. Populismos, redes sociais, fake news, motores de busca, jornalismo ‘online’ versus jornalismo clássico, o papel, a televisão.

“Se não tivesse havido o caso da Cambridge Analytica, o Brexit e o Trump não teriam vencido as eleições. Portanto, duas páginas da nossa História recente completamente escritas por hackers russos”. A este propósito o fundador do Expresso contou que foi elaborada uma estatística que denuncia que nos horários de refeições na Rússia a disseminação de fake news diminui substancialmente.

Balsemão pede um “jornalismo de verdade, de qualidade, profissional, respeitando as regras deontológicas e punido se estas regras não forem aplicadas”. Este jornalismo, diz Balsemão, é “mais essencial do que nunca”.

“O onde, o quando e o quem” (perguntas básicas a que uma reportagem deve responder) as redes sociais já mostram, afirmou. “À televisão cabe o papel de responder ao como e porquê, ou seja, o papel da investigação”.

Quanto ao papel do papel, passando a redundância, Balsemão considera que não vai desaparecer mas vai sofrer alterações. “Adoro o papel mas temos que fazer um esforço para acompanhar as mudanças. As publicações em papel estão a vender cada vez menos mas compensa-se na venda de exemplares na versão digital”.

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