A historiadora angolana, Ana Paula Tavares referiu que “há beleza e mistério na palavra solidão e na forma como Ana Luísa Amaral a recupera enunciando-a no plural “solidões” e juntando “minhas” para nos advertir para a arte de procurar a palavra e recuperar o som e o sentido” para alertar a plateia para o facto de que “vivemos soterrados num mundo de excesso onde é difícil encontrar a solidão das coisas, a sua exata impressão e recorte”.

Cristina Morales, que este ano se estreou no Correntes d’Escritas, definiu o poema “Imagens”, de onde foi retirado o verso, como “um poema de amor em que a voz poética se queixa do seu amado”, “não é dramática, mas lamenta dizendo que ou ama ou escreve”.

O verso de Ana Luísa Amaral levou Inês Pedrosa a dedicar a sua intervenção a outra escritora que também participava no Correntes d’Escritas, nomeadamente pela última vez em 2020, Maria Manuela Viana, que nos deixou em dezembro de 2022. Numa incursão pela literatura e grandes autores e artistas, a jornalista referiu que “todos os artistas são, de uma maneira ou de outra, suicidados e todas as obras gestos de solidão subitamente interrompidos. Cada obra na sua solidão e na sua eternidade é uma pressão da morte e uma negação dela”.

Paulo Moreiras, que após 13 anos de interregno regressa ao Correntes d’Escritas referiu-se à solidão numa vertente positiva, frutuosa, “que costumo usar para a minha reflexão”. Para o autor de A Vida Airada de Dom Perdigote, a solidão é algo que valoriza desde tenra idade, “em criança, facilmente me entretinha com qualquer coisa. Nunca me senti sozinho quando dentro da minha solidão sentia-me antes um artista que vivia o meu sonho e utopia, era imensamente feliz”.

Santiago Gamboa, que também regressa aos Correntes d’Escritas 10 anos depois de continuadas participações nos primeiros anos do evento, referiu que em contexto literário a solidão está relacionada com a experiência, sendo “a literatura uma resposta à solidão. Escrever é um ato solidário”. O escritor colombiano usou a imagem de que nascer é chegar a um país estrangeiro, ao desconhecido, tal como a solidão, e perante a qual precisamos de cruzar a linha”.

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