Como os escritores não são indiferentes à realidade, Salvador Santos deteve-se sobre a guerra na sua participação: “a Rússia invadiu a Ucrânia e eu fui à Póvoa passear no esplendor”. O escritor natural de Chaves e estreante no Correntes d’Escritas referiu-se à especulação, lucro e ganância dos mercados: “não encontro forma de contrariar a ideia de que a guerra e os impérios são inevitáveis. Não há alternativas ao mercado e a ganância, a opressão e a violência são universais”.

Também Gonçalo M. Tavares, partindo de um verso de Construção – “Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”, falou da guerra e da pobreza que abundam o mundo.

O escritor partilhou com o público o pensamento que o invadiu quando a Ucrânia foi invadida: conceito de atrito, aquilo que impede o movimento, algo que parece muito importante no início, mas depois de ultrapassado é esquecido.

Terminou, recordando que na pandemia, janeiro 2021, foi assustador ouvir as sirenes (das ambulâncias) e agora, começamos a ouvir outras sirenes (dos bombardeamentos), chamando a atenção para a etimologia da palavra (sirene e sereia) como algo que atrai.

E concluiu com a ideia de corpo afogado a pedir notícias, num poema de Ruy Belo: “a mim morto entre águas e corais que ideia me dais aí da superfície”.

Foi uma boa disposição contagiante que Dany Wambire envolveu a plateia na sua visão da relação existente entre a literatura e a música e revelou que cresceu a achar que música e literatura tinham uma fronteira muito ténue: “venho de um povo em que a música é o principal condimento para temperar a receita da existência, a receita da vida.

Há sempre música presente nas nossas vidas”.

O professor revelou ainda que quando lê poesia procura música igual à que encontra nos contos tradicionais e concluiu: “a música está em tudo, está na vida. Tirem-nos tudo, tudo, mas não nos tirem a vida, não nos levem a música”.

Elena Medel considera que quando lemos um livro, ouvimos uma música ou vemos um filme neles encontramos detalhes da nossa experiência. Neste sentido, analisou Construção para ver o que de si refletia e viu que na música estava corpo e daí partiu para a sua “Memória económica do pelo”.

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